Fenômeno de transfiguração dentro do taxi

Davilson Silva-

Não se encerrando de modo absoluto no corpo físico, o perispírito possui o mesmo caráter do Espírito.

É bem provável que o prezado leitor ou a prezada leitora já tenha sabido de casos entre motoristas e “almas do outro mundo”, na maioria das vezes apenas vendo-as na beira de uma estrada ou dando-lhes carona. Antes de tudo, vale dizer que o caso aqui narrado, sem nenhum exagero, corresponde mesmo à realidade, nos mínimos detalhes.

Achava-me no centro da cidade, em cima da hora de chegada à redação de um jornal onde eu trabalhei, na zona leste da metrópole paulistana. Metroviários estavam em greve; os ônibus, quando surgia um, abarrotados de passageiros; os táxis pareciam ter sumido do mapa; coletivos e mais coletivos clandestinos; um horror...

“Opa! Finalmente um táxi livre!”, falei em voz alta. Principiando uma prece, agradeci a Deus pela calma e paciência sugeridas pelos bondosos Espíritos. Livre daquilo tudo, e já acomodado no confortável assento do veículo, à direita do chofer, cumprimentei-o e disse para onde íamos. “Que sujeito mais fechado, carrancudo!”, pensei. Cara de poucos amigos, ele parecia fazer ver na testa aquele cartaz que há no interior dos coletivos: É proibido falar com o motorista.

Pedi a Jesus, rogando bênçãos ao Mestre Divino em favor do taxista. Passados alguns minutos de engarrafamento, buzinaços, calor insuportável, de súbito, aquele que anteriormente não correspondera ao meu cordial boa-tarde e evitava olhar-me nos olhos, disse quando já percorridos alguns quilômetros:

— Vai chover...

— É... Respondi assim, laconicamente, ocultando a tremenda surpresa.

— Olha as nuvens! Admirado, falou de novo.

O imprevisto

Aquela impressão do início pouco a pouco foi se abrandando, mas continuei na minha. Ao sentir que ele queria mesmo prosar, em seguida, antes que eu dissesse algo, aconteceu um imprevisto! O sujeito aborrecido que dava ares de cerca de 50 anos de idade, tipo acaboclado, de cabelos lisos e ralos, talvez de meia estatura, forte, troncudo, como certos indivíduos do norte-nordeste, cuja tez expunha sinais de que adquirira varíola, em verdade era outro... Pele clara, cabelos louros ondeantes e anelados, olhos azuis, o motorista usava óculos de grau daqueles de armação preta, indivíduo “tipo gordinho” bem mais jovem e simpático que o primeiro. Nunca me passou pela cabeça tamanha e insólita ocorrência, e dentro de um táxi!!!

Depois de refletir se valia ou se não valia a pena puxar conversa sobre o acontecido, deliberei interrogá-lo:

— O amigo acreditaria em vida depois da morte?

— Sim!... Para minha surpresa, respondeu irresoluto, daí, sentir-me à vontade e narrar o acontecimento, fazendo por onde não perturbá-lo, afinal, percorríamos movimentada avenida, a famosa Radial Leste.

 Após contar tudo ao motorista, ouvi calmamente dele:

— Olha! Rodei a manhã inteirinha, e não deu nem pra pagar a gasolina, nem o almoço. O senhor é o primeiro passageiro do dia, falou conformado o atual motorista que, portanto, era médium. De volta à normalidade, a fixa caiu, e conscientizei-me de que testemunhara inequívoco fenômeno de transfiguração...

Transfiguração e bicorporiedade

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A “transfiguração de Jesus”, durante 

a materialização dos Espíritos Moisés 

e Elias, no Monte Tabor.

Transfiguração, do latim transfigurationem, é um fenômeno mediúnico em que o médium toma o aspecto corpóreo e as qualidades morais do Espírito comunicante. Existem dois tipos de transfiguração, a saber: parcial, quando o médium, não aparentando mudança de sexo, toma características diferentes; total (raro) quando o médium perde a própria forma ao tomar a do comunicante como no caso aqui narrado.

Acrescentemos neste caso outros conceitos sobre perispírito por este elemento estar visceralmente ligado à transfiguração. Não se encerrando de modo absoluto no corpo físico, o perispírito possui o mesmo caráter do Espírito. Na transfiguração, o papel do perispírito semelha-se aos fenômenos de bicorporeidade, mas, veja bem, fazendo apagar, tal como aconteceu ao taxista, e não fazendo desaparecer o corpo físico.

Por exemplo, o notável acontecimento do Monte Tabor serve de base para se dar ênfase ao poder de transformações na contextura do envoltório perispirítico. A narrativa dos evangelistas nos passa a ideia de que o corpo perispiritual de Jesus atingira importância incomum. A transparência, a nitidez de sua organização superior tornou possível um ”brilho“ e “alvura” excepcionais, por efeito da peculiar pureza de irradiância, à parte do envoltório somático. Imaginemos o enleio, o espanto de Pedro, Tiago e João no que contemplaram o rosto de Jesus feito um “sol resplandecente” (Mateus 17: 1-8, Marcos 9:  2-8 e Lucas 9: 28-36).

Conclusão

Faz dezoito anos que me aconteceu esse extraordinário fenômeno tido no psiquismo experimental como um dos mais raros. Jamais o esquecerei. Quanto ao motorista, o médium de transfiguração, veja, não que ele fosse uma pessoa má, visto que, no transcurso da viagem, percebi ser um sujeito tranquilo, educado, fraterno.

Por fim, consoante mestre Allan Kardec, qualquer uma das manifestações mediúnicas e paranormais que se revelaram em Jesus pode se revelar em todo ser humano, independente de grau de aprendizagem escolar, cultura, sexo, cor de epiderme, tenha esta ou aquela religião ou nenhuma tenha, seja idoso ou moço. Por isso, nada de milagre! Nada de sobrenatural! Tudo é natural, todo efeito tem uma causa, são causas divinas, coisas de Deus.

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