O que é a doutrina espírita

Davilson Silva-

Logo de início, Espiritismo só há um, o que Allan Kardec deu esse nome e oficialmente fundou com o lançamento da obra: O Livro dos Espíritos, em 18 de abril de 1857, na cidade de Paris, França, século 19. Para desinformar ou mesmo por ignorância, empregam a torto e a direito o termo kardecismo, em vez de espiritismo, e kardecista, em vez de espírita. Espiritismo de mesa branca ou mesa brancabaixo espiritismoespiritismo de Umbanda não passa de invencionice, de nomes divulgados por certas pessoas completamente mal informadas ou de má-fé que induzem os que lhes dão ouvidos a acreditar que existem outros tipos de Espiritismo (com todo o respeito à Umbanda e aos seus adeptos).

Allan Kardec (1804/1869), o codificador do Espiritismo
em 18 de abril de 1857, cujo verdadeiro nome era 
Hippolyte Denizard Rivail, "o Professor Rivail" como 
o chamavam. Allan Kardec foi um pseudônimo adotado 
por ele mesmo para que não fizessem confusão com 
o nome natural que grafava em suas numerosas obras 
de cunho didático, de excelente pedagogo e discípulo 
que foi de outro grande mestre, Joahann Heinrich 
Pestalozzi (1740/1827).
Todos os que seguem o Espiritismo, ou Doutrina Espírita, chamados espíritas, são, em verdade, espiritualistas. Por sinal, toda crença que admita existir algo além da matéria é espiritualista. Os da crença católica romana, protestantes, evangélicos, umbandistas, budistas, taoístas, xintoísta, hinduístas, judaicos, muçulmanos e outros tanto religiosos são “espiritualistas”. Mas isto não quer dizer que adeptos dessa mencionadas crenças aceitem a existência dos Espíritos, assim como a possibilidade de eles poderem se comunicar com o mundo visível, daí o termo espírita, espiritismo, de autoria do próprio Kardec, por causa dessa distinção.

Um grande passo para uma longa caminhada

Quem já sabe o que é Espiritismo, sem dúvida alguma, deu um grande passo. Mas, se permanecer apenas num passo, longe estará de uma grande caminhada. É preciso ir bem mais adiante; ou seja, afora saber do que trata a Doutrina Espírita através da leitura, de uma palestra, necessário se torna o estudo sistemático das cinco obras básicas, sob a responsabilidade de Kardec, as Obras da Codificação Kardequiana. Aqui lhe oferecemos os princípios essenciais do ensino dos Espíritos Superiores, dados de conhecimentos transmitidos a Kardec, informações e elucidações úteis acerca de pontos indispensáveis à educação da Alma, ou Espírito encarnado, os quais visam tão-somente a nossa reforma de caráter.

Disse Jesus da necessidade da vinda, depois dele, de um “outro consolador” enviado por Deus, aquele que os homens jamais o conceberiam; não estavam suficientemente maduros para entender-lhe os ensinamentos (João 14: 15 a 17 e 26). Conforme Jesus, nessa passagem, o consolador relembraria tudo o que Ele ensinou e exemplificou. Ora, se ele precisava vir, a fim de “ensinar” e “relembrar” todas as coisas transmitidas, logo se entende que este completaria o que Jesus tinha ensinado.

Ao Mestre afirmar que ele “relembraria” os Seus ensinamentos, compreende-se que, incompletos, os esqueceriam ou seriam mal compreendidos, o que realmente ocorreu, daí a vinda do Consolador, ou o Santo Espírito (segundo Vulgata Latina), ou o Espírito de Verdade. Queiram aceitar, quer não queiram, Deus já o enviou, ele e uma plêiade de Espírito nobres. Com propósito de restabelecer as coisas no seu verdadeiro sentido, o Consolador prometido por Jesus dissipa as trevas, confunde os orgulhosos e glorifica os justos. Ele e os seus colaboradores já nos contemplaram com um complexo filosófico-científico de efeito moralizante, segundo uma ordem de sabedoria e benevolência, o qual, ainda assim, o mundo demora-se a reconhecer...

O Espiritismo, doutrina de livre-exame, irremediavelmente comprometido com a liberdade de consciência e de expressão do pensamento, segue a linha de ideias de Jesus. Essa bendita Doutrina estabeleceu o sentido real dos conceitos do Mestre Nazareno; excluindo os mitos religiosos, escritos em tempos mitológicos, e as interpolações dos teólogos através dos séculos, ela impugna o materialismo e dá fim às superstições e crendices.

Só o Espiritismo explica

Nenhuma filosofia, nenhuma religião, nenhuma seita foi capaz de explicar e justificar por que alguns nascem ricos e outros em extrema penúria. E as crianças recém-nascidas que logo morrem? E as que só conheceram o sofrimento? Se somente há uma existência na Terra, porque elas nasceram? Que fizeram para sofrerem tantas misérias no mundo? Já que não puderam fazer nem o bem, nem o mal, os recém-nascidos que deixam este mundo merecem o Céu ou o Inferno? (como se não bastasse o conto do pecado de Adão e Eva, para justificar o do céu e inferno, as penas eternas, purgatório, inventaram o limbo para eles).

O que fizeram cegos, aleijados, portadores de toda deficiência físico-mental, de nascença ou não, para se verem impedidos das atividades ao alcance dos que nasceram saudáveis, lúcidos, às vezes, sob um mesmo teto?; por que os maus prosperam conseguindo tudo, enquanto os bons sofrem-lhes injustiças e levam uma vida de sacrifícios, de obstáculos, ainda que pela força do trabalho honesto? O Espiritismo, pela voz dos Espíritos, explica e justifica essas questões que parecem desmentir a bondade e justiça de Deus.

Origem do Espiritismo e o controle universal dos ensinamentos

Espiritismo, doutrina revelada pelos Espíritos Superiores, de autoria deles, trata-se de um compêndio de princípios transmitidos por meio de vários núcleos espíritas, seus médiuns e suas diferentes e idôneas faculdades medianímicas, espalhados em diversos países e cidades, estranhos uns aos outros. Vale ressaltar que, se a Doutrina Espírita fosse de concepção puramente humana, ou seja, de autoria de Kardec, tenderia a ficar apenas no âmbito da sua opinião. Se os Espíritos tivessem revelado tudo o que revelaram a uma só pessoa, nada lhe garantiria a autenticidade. Quis Deus que os novos conhecimentos chegassem por meio mais rápido e autêntico, encarregando os Espíritos de propagá-los em toda parte, sem dar a ninguém o privilégio exclusivo de recebê-los.

Um homem pode enganar ou enganar-se a si mesmo; mas milhões ao ver e a ouvir a mesma coisa, não. O trabalho de mestre Kardec foi o de indagar, pesquisar, checar e obter confirmações, além de, sobretudo, codificar, ou seja, reunir em coletânea. Todas as informações recebidas dos Espíritos, cada uma segundo a sua particularidade, ele as submeteu a rigoroso critério seletivo à luz da razãoPosteriormente, o que Kardec coletou, pôs em ordem, teve uma nova forma acrescida de geniais dissertações e notas do seu próprio punho, transformando todos os temas por ele organizados em um corpo de doutrina, dado a lume na data e local já mencionados.

Os três aspectos da Doutrina Espírita: ciência, filosofia e religião

CIÊNCIA — É ciência porque os seus pesquisadores sempre usaram dos mesmos métodos e critérios de quaisquer campos da pesquisa científica, questionando, enunciando hipóteses, coletando dados de observação, analisando e comprovando os fenômenos espirituais. No vocabulário da ciência espírita, o termo “sobrenatural não existe, tampouco a palavra “milagre”, termos muito usados entre aqueles que ignoram as leis naturais, quer digam respeito às relações materiais, quer às espirituais e morais.

Para os pesquisadores espíritas, qualquer fenômeno espiritual é próprio da Natureza, pertence a ela, por mais estranho que pareça. O Universo é um sistema único e todos os seus elementos se harmonizam no conjunto de tão perfeita e imensurável estrutura, e Deus jamais produziria milagres, já que toda a criação divina tem uma sublime utilidade, Suas leis são perfeitas, justas, sendo uma delas a lei do méritodecorrente da de causa e efeito; não foi à toa que Jesus disse, ratificado por Paulo: A cada um segundo suas obras...

Por que Deus faria milagres se as Suas leis são tão perfeitas? Tudo o que Ele criou jamais se afastará das leis gerais. Ao se afirmar que Deus faz milagres nega-se-Lhe o soberano poder e ciência afora a Sua imutabilidade. São fatos que muita gente não compreende pela falta de conhecimentos necessários; “vejam os que têm olhos de ver...

FILOSOFIA — É filosofia: a partir das ocorrências espirituais, o Espiritismo explica de onde você veioo que faz no mundo e para onde vai após a morte. A filosofia espírita também ajuíza intenção de múltiplos fatores da existência, o motivo próprio da vida, sendo naturalmente a criatura humana o foco inevitável de suas considerações.

RELIGIÃO — É religião: tendo por finalidade dar novo caráter moral aos indivíduos encarnados e desencarnados, o Espiritismo, magnânimo iniciador da Sociologia no mundo, sintetiza, revive o pensamento profundo e fecundo de Jesus, no seu mais puro e amplo significado, para aplicação no dia a dia de cada criatura, em prol de uma sociedade solidária, justa e fraterna.

Difere das religiões e de outras crenças 

O Espiritismo não tem nada a ver com sincretismo religioso, e o primeiro centro espírita brasileiro foi oficialmente fundado em 17 de setembro de 1865. Nos centros espíritas não se verifica cerimoniais de oferenda, danças ritualísticas, cânticos litúrgicos, exorcismos, sequer, neles, cumpre-se o ato de beber alcoólicos ou chás alucinógenos. O espírita sincero entende que o Criador deve apenas ser adorado em espírito e verdade, conforme aconselhou Jesus, isto é, de coração nas atitudes caridosas de amor ao próximo por amor a Deus, incessantemente.

O Espiritismo distingue-se das crenças literalistas, as que são salvacionistas, aferradas a conceitos dogmáticos estacionários. As diversas atividades espíritas não têm nada a ver com ocultismo, com necromancia, ou adivinhação pela invocação de Espíritos.

Dentro dos centros espíritas, dispensa-se estátuas, altares, crucifixos, cerimônias de batismo, de crisma, de casamento e de qualquer outro tipo de ritualística. Não se usa quaisquer objetos de ritos, aparatos simbólicos, não se acende velas, tampouco se adota indumentárias e adereços para fins litúrgicos. Ornamentos pomposos, gestos de reverência, benzeduras, talismãs, incensórios, defumações lá também não existem. Na estrutura organizativa das sociedades espíritas legalizadas não há hierarquia sacerdotal, chefes espíritas, por exemplo; há, porém, uma hierarquia administrativa.

Conclusão 

No verdadeiro centro espírita, orientado pelos preceitos kardecistas, no tocante a procedimento de normas e funções, não se cobra dízimo nem importância alguma pela caridade cristã que se faz, seja esta de caráter social, seja de auxílio espiritual. Os cursos oferecidos nos núcleos espíritas são gratuitos.

Por ser uma organização religiosa sem fins lucrativos, cada núcleo espírita possui um quadro de sócios, de mantenedores. Contando sempre com doações de pessoas de boa vontade, sem qualquer exigência, sem artimanha e sem nenhum truque de indução psicológica, elas ajudam a ajudar os nossos irmãos que não têm o necessário à vida. Presidentes de centros espíritas, membros diretores e outros voluntários, em especial os médiuns, de um modo ou de outro, não fazem da caridade cristã ofício remunerado: vivem para elae não dela.

O Espiritismo não impõe, e sim expõe, propõe e, sobretudo, respeita credos religiosos, correntes filosóficas, consistindo em todos esses preceitos e atributos acima mencionados. Para que o prezado amigo ou a prezada amiga possa inteirar-se por completo das razões até aqui expostas, do que exatamente trata os três aspectos do Espiritismo, respeitantes à sua filosofia, ciência e religião, comece a ler estas cinco obras na seguinte ordem e respectivas datas de lançamento: O Livro dos Espíritos (1857); O Livro dos Médiuns (1861); O Evangelho Segundo o Espiritismo (1864); O Céu e o Inferno (1865); A Gênese (1868). Antes, porém, recomendamos a leitura de O Que é o Espiritismo, publicado em 1859, o primeiro dos dois títulos complementares, obra introdutória de leitura fácil, contendo um resumo de toda a Doutrina. O ideal é, em seguida, o amigo(a) inscrever-se em um curso de Espiritismo numa instituição espírita com professores e tudo mais.

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