Acerca da esperança

Davilson Silva-

Em que pesem negar a vida espiritual, mesmo assim, o fato da morte causa-lhes agonia, enorme tormento porque, neles ou em qualquer pessoa, jaz latente a sensação de imortalidade.

“A esperança seria a maior das forças humanas, se não existisse o desespero”, conforme o novelista, poeta, dramaturgo, ensaísta, artista, estadista e ativista pelos direitos humanos francês de grande atuação política em seu país, Victor Hugo.

Uma das muitas ilustrações dos papiros que compunham 

O Livro dos Mortos, no Egito Antigo.

Ter esperança quer dizer: saber esperar aquilo que se deseja, ou expectativa de que algo aconteça com base em supostos direitos, probabilidades, promessas. Agora, da Fé e Caridade, no sentido elevado dessa palavra, a Esperança, também grafada em maiúscula e minúscula, é de ambas a sua irmã gêmea.

Saber esperar é um ato de humildade, principalmente quando, em dado instante, tudo pareça obscuro, sentindo-se a pessoa na noite das noites. A esperança seria mesmo uma das forças, se não existisse o desespero! O desespero, ou seja, falta de esperança, anula toda a força dessa virtude.

Por que o desespero

Mas por que crentes e descrentes se desesperam? Falando-se de cristãos, por que tanto se afligem, sobretudo, com a morte, se o próprio Cristo demonstrou existir um grandioso futuro além-túmulo? Temos a resposta: desalentam-se nos reveses da vida aqueles aos quais, quando crianças, infundiram-lhes terror, pavor pela morte como se morrer fosse um castigo, além da ideia de um Céu e um Inferno. Dizendo que o mais certo é irem para o Inferno, ensina-se que é pecado grave, uma ofensa a Deus interessar-se pelos princípios relacionados às leis orgânicas e imutáveis da matéria, pela ordem natural das coisas, o que, aliás, é um contra-senso; essas leis são de ordem divina.

É por isso que alguns homens e mulheres, ao raciocinar um pouco, acabam se tornando ateus. Por não admitirem certos conceitos preceituados como verdadeiros, dizem que a ideia da vida futura não passa de simples utopia, de fórmula mais que repisada. Em que pesem negar a vida espiritual, mesmo assim, o fato da morte causa-lhes agonia, enorme tormento porque, neles ou em qualquer pessoa, jaz latente a sensação da imortalidade.

Crença tenebrosa

Já os que conservam a referida crença da infância, ou seja, a do céu e inferno, pior ainda. Da mesma forma que os descrentes (ou, se o preferir, céticos), a morte afigura-se-lhes enorme agonia acrescida do medo de morrer e irem para o Inferno. Acreditando-se pecadores, acham que podem padecer nas chamas infernais eternas que devem queimá-los sem os destruir. Não é ao acaso a presença cada vez mais numerosa dos que tiram proveito dessa situação.

Aceitar a morte é uma coisa, inquietar-se com ela é outra... Mesmo certo de que um dia vamos morrer, natural é evitarmos a morte, tendo toda a cautela, não nos expondo a possíveis acidentes fatais, principalmente no que se refere a cuidados com a própria saúde. No caso do suicídio, ninguém escapa, como se supõe, de tudo e de todos, tampouco “descansa em paz” ou desaparece para sempre, ou perde toda a consciência, toda a responsabilidade de atos passados, desfazendo-se de tudo qual gota que cai no oceano, conforme ideia panteísta.

Conclusão

A Esperança é uma “força” da qual haure a criatura bom ânimo e coragem nos embates da vida. Sem ela, o homem não resiste às provações nem se demora tanto quanto possível no mundo para cumprir as suas tarefas, os compromissos perante o próximo, os mais próximos, a sociedade e, por consequência, a Deus. Sem Esperança, não há Fé nem Caridade. Quando a Esperança esmorece, aí sim: atos criminosos e todo o tipo de ilicitudes, suicídios diretos e indiretos pela prática irresistível de maus hábitos, especialmente de consumo de bebidas alcoólicas, de outras drogas, enfim, a falência moral e os lamentáveis sofrimentos que dela decorrem.

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