O fenômeno de voz direta é o mais
singular dos fenômenos psíquicos até hoje conhecido, um dos mais convincentes e
admiráveis. Como se processaria ? A explicação ainda é questão aberta .
Era o ano de 1999, fim de nublada e fria tarde de uma segunda-feira. Aprontávamos, eu e a minha esposa, para cumprir os nossos compromissos de trabalho junto a fraternos companheiros da Federação Espírita do Estado de São Paulo (Feesp). Saíamos sempre com bastante antecedência, encaminhávamos para a Feesp com aquela alegria de poder abraçar de novo a tarefa.
Assim que conseguimos sair da garagem do condomínio de nossa residência, ao
descer a rampa para ganharmos a rua, eis senão quando algo inesperadamente
aconteceu: escutamos uma voz feminina. A voz melodiosa, no interior do veículo,
disse-nos com suave inflexão de alerta: “Cuidado, não corra!” Posso garantir
que o rádio do carro não estava ligado, não.
Tivesse minha mulher, que dirigia
o veículo, acelerado um pouco mais para aproveitar uma rara oportunidade de
ultrapassar o cruzamento de uma avenida!... Se nos adiantássemos alguns metros
a mais, experimentaríamos inevitável colisão de veículos depois do moroso semáforo,
ou farol, ou sinal de trânsito; aí percebemos logo o valor daquele valioso
aviso. Em suma, caríssimo leitor ou caríssima leitora: acontecera um autêntico
e providencial “fenômeno de voz direta”! Ficamos deveras embevecidos,
comovidos. Jamais poderíamos supor o sério engavetamento de diversos veículos
que, sem dúvida alguma, impossibilitaria nossa chegada à Feesp.
Como foi possível o fenômeno? “É
difícil explicar como se processa”, respondeu um Espírito ao lhe perguntarem a
respeito desse raríssimo meio transcendente de contato. Sabemos, pelo menos,
que tudo só depende de mútuo auxílio durante o ato de se provir as energias necessárias
para este mister, aos Espíritos baixarem a sua vibração, colocando-se os
assistentes encarnados em determinadas condições.
Ainda é questão aberta, as
explicações são vagas, empíricas. A Entidade chamada Greentree revelou ao
pesquisador J. Arthur Findley, presidente da Psychic News e da
revista Light, na década de 30, século 20, ao pesquisar a médium inglesa
John C. Sloan: “Trata-se de uma condição em que vocês se colocam e nos
habilitam a absorver o ectoplasma do médium e seus auxiliares; fazendo assim,
sinto-me como me sentia quando da permanência na Terra”.¹
A caminho de Damasco
Paulo de Tarso, tela do pintor espanhol El Greco
|
A caminho de Damasco (Síria atual), o Apóstolo Paulo topou
com algo jamais acontecido em toda a sua existência: “Saulo, Saulo, por que me
persegues?” (Atos 9:4-7), indagou uma voz também ouvida por seus companheiros
de viagem que nada falaram (provavelmente cheios de pavor por não saberem quem
falara e de onde surgira a voz).² Sem dúvida, esse acontecimento se deu
para ficar de vez na memória do Cristianismo o que para nós, espíritas,
representa muito, muito mais que simples emprego como símbolo de mudança de
ponto de vista, de alguma disposição afetiva em relação a coisas de ordem moral
ou intelectual.
Atribuíram a Cristo a autoria dessa estranha voz dirigida ao
Apóstolo dos Gentios, naturalmente, para nós, oriunda da existência espiritual.
Portanto, o acontecimento de Damasco não foi um mero fenômeno aleatório; havia
um sublime propósito, como há em todos os fenômenos espirituais perseguidos,
escarnecidos, combatidos por opositores incansáveis. Os fenômenos também
denominados “espíritas” representam uma grande ameaça para eles — no fundo, no
fundo, sabem que estes desabam o suposto pedestal da sua convicção arrogante e
dos princípios estagnados na má vontade e intolerância por sobre o qual se
conservam.
Extraordinário fenômeno
Leslie Flint (1911/1994),
médium
o fenômeno de voz direta
|
Diferentes autores já relataram à farta depoimentos de
respeitáveis testemunhas, tais como John Myers, Oliver Lodge, William Crookes e
outros. Estes nomes puderam ouvir aqueles que não pertenciam mais a este mundo
— expressando felicidade uns, espanto e angústias, outros, quando do ingresso
na dimensão espiritual, destino inevitável de todos os homens, partidários e
não partidários da imortalidade da Alma e suas relações com o mundo espiritual.
Fiquemos com um trecho de mensagens através da mediunidade de
voz direta, proferida pelo Espírito Mahatma Gandhi, que foi registrada em
aparelho de gravação por George Woods e Betty Greene. O médium Leslie
Flint,³ um dos médiuns físicos contemporâneos mais pesquisados, cedeu o
seu ectoplasma para que Gandhi pudesse dizer estas palavras, exatamente como diria
com a própria voz de quando encarnado:
(...) A vida na Terra se constitui na
escola em que o homem deve compreender sua missão, onde lhe é oferecida a
oportunidade de herdar o Reino do Pai. O primeiro dever que deverá aprender é
esquecer-se de si mesmo, passando a derramar o amor entre os seus semelhantes.
E isso vos retornará como compensação. Todas aquelas coisas de que falara
Cristo, todos os seus grandes ensinamentos, que os grandes filósofos repetiram
ao longo dos séculos, referem-se ao homem esquecendo-se de si mesmo, direcionando
seus propósitos para o autoconhecimento (...)
__________________________________________________
1FINDLEY, J. Artur. No limiar do etéreo. 2. Ed. Rio de
Janeiro: Federação Espírita Brasileira (FEB), 1950. Introdução.
2ALMEIDA, Tradução de João Ferreira de. A bíblia
sagrada . 100.000. ed . Rio de Janeiro: Sociedade Bíblica do Brasil, 1960.
Capítulo 9.º, versículo 7, p. 152.
3Leslie Flint, nascido em 1911, Hacney,
distrito de Londres, Inglaterra, e desencarnado em 1994, foi um poderoso
instrumento de voz direta desde 1935. Todos os que presenciaram as
manifestações por intermédio dele ficaram absolutamente convencidos de que a
vida continua depois da morte. Flint foi auxiliado por seus dois seriíssimos e
leais amigos, George Woods e Betty Greene, os quais, felizmente, registraram
grande quantidade de vozes em gravador de som, a partir de 1945, quando o
médium se encontrava no melhor momento de sua faculdade.
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