Davilson Silva-
Não aprendemos ainda tirar proveito
da progressão das horas, dos dias, dos anos, colocando em risco o nosso futuro.
Os que experimentam o viço da estação da primavera dizem: “o
negócio é gozar a vida”, ao se referir à velhice seguida do suposto fim de
todas as possibilidades, ou seja, a morte. Muitos entendem que a prática de
certos prazeres e más paixões fazem parte da juventude, sem cogitarem o
inverno, ou derradeiro recurso de tempo para o serviço imprescindível, no qual,
por esse motivo, sempre acontecem lamentáveis e profundas tristezas.
Não aprendemos ainda tirar proveito da progressão das horas,
dos dias, dos anos, colocando em risco o nosso futuro. Deus nos faculta a
grande felicidade, ou bem-aventurança, confirmada pelo maior modelo oferecido
ao homem, Jesus, a maior luz descida à Terra. Aproveita o espaço de tempo
terreno quem se vale do ensejo de “buscar” aquilo que não possui aspecto
exterior: o “reino de Deus e a sua justiça” (Mateus 6:33).
Aproveita a existência quem segue as virtudes de Jesus, as
quais, a propósito, não consistem numa aparência severa e lúgubre. Existência!
Abençoada chance dada à Alma, para que ela, ao aproveitá-la, usufrua no futuro
da verdadeira alegria e fulgor santificante. Não falta orientação para torná-la
favorável, degrau que se conquista com esforço incomum em prol da reforma
imprescindível do conjunto de nossas disposições morais e intelectuais.
Reforma de caráter
Reforma íntima, ou de caráter, quer dizer reconstrução do
íntimo, assumidas atitudes positivas, corretas. Tal mudança tem de ser sólida,
contínua, porque não faltam críticas e impedimentos que cerceiam a boa vontade,
pois “quem procura o bem, decerto que há de sofrer as arremetidas do mal”,
segundo o Espírito André Luiz. Atrai para si o apoio do próximo e, por
conseguinte, o prestígio e assistência dos bondosos e esclarecidos Espíritos
quem compartilha fraternalmente de suas alegrias ou tristezas.
Quem não gostaria de viver tranquilo? Quem dispensaria a
segurança, o conforto? Ninguém. Quaisquer seres vivos organizados de certa
sensibilidade e movimento tratam de obter uma maneira de melhor dispor dos
recursos oferecidos pela Natureza. Podemos afirmar que até organismos
portadores de clorofila, grupos de diferente condição constitutiva como organismos
unicelulares, fungos e bactérias, seres rudimentares de outro reino procuram
seguir da melhor forma possível consoante limites e peculiaridades. Não há uma
criatura desta ou de outras dimensões de existência que não tenda para esse
propósito.
Todos os seres viventes do Planeta, Deus os talhou para que se
sentissem ditosos, vivessem em segurança, confortáveis. O próprio Jesus, ao Se
encontrar em uma localidade junto com os discípulos (Lucas 11:11), depois de
lhes ensinar aquela sublime prece, a Oração Dominical, respondeu uma pergunta
de um deles com outra pergunta: “Qual dentre vós é o pai que se o filho lhe
pedir um peixe lhe dá um escorpião?”... Logo, como já dissemos, Deus supriu
todos nós de modo que não nos sentíssemos desamparados, isolados, tristes.
Temos procurado ser felizes, ver concretizados os nossos
objetivos desde que saímos das mãos do Criador. Nós, os “reis da Natureza”, por
conta disso, o que fizemos em prol da consonância com a bondade e a
misericórdia divina? Não precisamos responder: é só ligar o televisor e
assistir ao telejornal... Passamos pela Idade da Pedra Lascada, pela Idade
Antiga, pela idade Média, pela Idade Moderna e prosseguimos a Contemporânea...
À proporção que temos reentrado em lugares diversos do âmbito
de cada período histórico, fomos tornando a existência melhor. Desde que
passamos a ponderar ideias gerais, estabelecendo relações lógicas de conhecer,
compreender e raciocinar, passamos também, com o tempo, a ser muito mais
vítimas de nossa própria imprevidência em detrimento da espiritualidade da qual
deveríamos concomitantemente nos pôr a serviço. Obtivemos progresso
tecnológico-científico, encurtamos distâncias, descobrimos fórmulas...
Não sabemos
Todavia, com toda a inteligência e racionalidade humana, ainda
assim, não sabemos valer-nos da existência. Muitos não conseguem se pôr a salvo
das teias enfermiças da intelectualidade viciada ou do peso do ouro, presos aos
grilhões da ambição excessiva, do egoísmo. Em geral, preferem supor que “gozar
a vida” é satisfazer apetites grosseiros, ir em busca de repouso e deleites
diuturnos, afeiçoados ao culto dos abusos.
Demoramos na incapacidade de um olhar mais adiante, dando-nos
por satisfeitos ao nutrir idílios caprichosos. Passa o tempo, os costumes
mudam, as gerações se sucedem, e não consideramos a cultura da alma que não se
aprende em escolas de concreto armado, e sim pelos ensinamentos dos Instrutores
Espirituais que permanecem no educandário humano em socorro de todos. Ainda é
muito forte entre nós, encarnados, a ideia de que a finalidade do viver
consistiria tão-somente na busca incessante de um turbilhão de prazeres.
A generosa ciência pedagógica de Jesus continua a propor que
se busque fundamentalmente o reino de Deus.1 Entendamos
aqui por “reino de Deus” a espiritualidade que devemos possuir, cientes de que
ninguém a obterá à custa de sacerdotes com ou sem veste litúrgica, de batismo,
de penitências ou de quaisquer outros processos que não impliquem a mobilização
de nossas próprias forças intelecto-morais. É inútil escrever sobre as virtudes
de Jesus, dizer que O ama, ser exímio professor, orador do Evangelho, sem
lograr o reino de Deus, ou espiritualidade, também significando pureza de
coração, força moral.
Aproveitemos, sim, os prazeres salutares, sejamos sociáveis,
alegres, mas com “a alegria de uma boa consciência e a ventura do herdeiro do
céu que conta os dias que o aproxima de sua herança”.2 Vida? É somente uma, e eterna.
Existência?... Existências! Em geral, são muitas, diferentes,
transitórias, o que, para nós, é o grande corolário da justiça e misericórdia
divinas. Feliz, ainda que neste mundo, daquele que combate as suas más
tendências, daí André Luiz ter dito: “Se você aproveitar o tempo a fim de
melhorar-se, o tempo aproveitará você para realizar maravilhas”. Outra
frase de André que reforça sobremodo a anterior: “É perigoso guardar uma cabeça
cheia de sonhos, com as mãos desocupadas”.3
__________________________________________________
1KARDEC, Allan. O
evangelho segundo o espiritismo. Tradução Herculano Pires. 62. ed. São
Paulo: Lake — Livraria Allan Kardec Editora, 2001. Capítulo 25, do item 6 ao 8,
página 291.
2_____ . _____ . Cap. 17, item 10, p. 230.
3XAVIER, Francisco C. Sinal verde. Pelo
Espírito Emmanuel. 20. ed. Uberaba: Comunhão Espírita Cristã, 1987. Tema 21, p.
52.
No comments :
Post a Comment