Davilson Silva-
Agora, falemos de tipo de hipócritas. Dividamo-los em duas categorias distintas: (a) hipócritas-egoístas; (b) hipócritas-vaidosos. Os da categoria a, os egoístas, são uma espécie de impostor que “gosta de levar vantagem em tudo”, aproveitam-se da sua farsa para satisfazer seus egoísticos interesses mundanos. Os da categoria b, isto é, os vaidosos, são aqueles que desejam mais, a qualquer custo, merecer a admiração de todos, o destaque, o brilho, tendo todo o cuidado de aparentar desinteresse, modéstia.
Hipócritas mostram-se afáveis, com voz macia, impressionam os que lhe dão atenção.
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O
hipócrita é um enganador, um dissimulado
que atraiçoa
usando de artifícios, que ataca, fere através de atos
violentos
a fim
de conseguir o que não lhe
pertence por direito.
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Será que devemos nos omitir ante o
erro da hipocrisia? Será que neste mundo, por não ser perfeito, o homem não
pode se queixar de ninguém? O que dizem os Espíritos a esse respeito, à luz da
sua Doutrina, sabedores de que Jesus recomendara o “não julgueis a fim de que
não sejais julgados”? Disse ainda aos escribas e fariseus: “Aquele que não
tiver pecado, que atire a primeira pedra”, quando do episódio da mulher
adúltera (João, 8:3-11).¹
Graças aos Espíritos, podemos
entender o que quis dizer Jesus nas mencionadas frases, do seguinte modo: ao
nos queixarmos do próximo, ao difundir suas falhas, impomos a nós próprios o
dever de nos mostrarmos e nos mantermos condignos do mérito que julgamos
possuir. Quem aponta os defeitos de alguém tem de necessariamente possuir mais
virtudes que ele, embora neste mundo seja difícil alguém possuir todas as
qualidades morais no mais alto grau da escala de valores espirituais.
É claro! Nosso planeta, como todo
espírita sabe, não passa de um sítio de provas e expiações que, segundo o Amigo
Espiritual, Irmão Tupinambá, um dos Mentores da nossa Casa, a Feap
(Fraternidade Espírita Aurora da Paz), “é um imenso hospital onde um
enfermo costuma criticar a doença do outro”... Entendam-se aqui
por enfermos os doentes da alma. Doentes não são só aqueles
que sofrem dos males do corpo físico, e uma das maiores doenças daqui é a de
não só ver as falhas alheias, mas a de torná-las públicas pelo
simples prazer de divulgá-las; é a conhecida fofocagem, ou intriga, ou
bisbilhotice que costuma denegrir reputações, por sinal, muito bem empregada,
em época de campanha eleitoral.
Um grande defeito
No décimo capítulo de O
Evangelho segundo o Espiritismo, item 10, lê-se: “Um dos defeitos da
Humanidade é ver o mal de outrem antes de vê-lo em nós”. “Para julgar-se a si
mesmo, seria preciso poder olhar-se num espelho, transportar-se de alguma
forma, para fora de si, e se considerar como uma outra pessoa,
perguntando-se: Que pensaria eu se visse alguém fazer o que
faço?”, comentou Allan Kardec.
É... Mas, às vezes, temos mesmo
obrigação de apontar a falta alheia. Consultando ainda este guia seguro,
O Evangelho, encontramos uma outra mensagem, encontramos
uma outra mensagem, a do Espírito São
Luís, no mesmo capítulo, item 19. Diz S. Luís que todos temos o direito
de repreender o próximo, uma vez que cada um deve trabalhar para o progresso
coletivo; no entanto, afirma: “Repreender com moderação, com um fim útil, e não
como se faz, geralmente, pelo gosto de denegrir”. Conforme o Mentor de Kardec,
deve-se corrigir o mal no próximo, mas com bastante prudência, objetivando
ajudar para não acarretar prejuízos a terceiros. Devemos repreender, mas com
moderação, de acordo com o Mentor.
É um dever desmascarar o hipócrita
antes que possa causar danos a muitos? Sim! O espírita sincero jamais
contemporizará com a manifestação das falsas virtudes, exercendo ele próprio o
decoro em quaisquer momentos da sua vida, honrando compromissos com os seus
irmãos e, principalmente, com aqueles mais próximos, consoante ensinamentos de
Jesus.
O Mestre não transigiu em tempo
algum com a hipocrisia. A prova é tanta que usou de todo o rigor com os
escribas e fariseus, considerando-os modelo de hipócritas.² Apesar disso,
Jesus foi indulgente com as “pessoas de má vida”, com o “bom ladrão”,
especialmente com aqueles que O insultaram, condenaram na cruz, dando a
entender que ser hipócrita é pior que ser criminoso, que ser adúltero.
Somente para os outros
Hipócritas mostram-se, em geral,
afáveis, com voz macia, parecendo evoluídos, capazes de transmitir grandes
ensinamentos de púlpito para os seus iludidos circunstantes. São adeptos
daquele conhecido princípio: “Faze o que eu mando, mas não faças o que eu
faço”, quer dizer, perdão, fraternidade, igualdade, caridade, humildade e
decência são somente para os outros... Sim, suas pretensões os enceguecem de
uma forma tal que, no momento em que levantam a voz, transformam-se em
talentosos atores ou atrizes, a ponto de representarem um personagem imaculado,
de uma impressionante e comovente dramaticidade.
Agora, falemos de tipo de hipócritas. Dividamo-los em duas categorias distintas: (a) hipócritas-egoístas; (b) hipócritas-vaidosos. Os da categoria a, os egoístas, são uma espécie de impostor que “gosta de levar vantagem em tudo”, aproveitam-se da sua farsa para satisfazer seus egoísticos interesses mundanos. Os da categoria b, isto é, os vaidosos, são aqueles que desejam mais, a qualquer custo, merecer a admiração de todos, o destaque, o brilho, tendo todo o cuidado de aparentar desinteresse, modéstia.
Não é fácil desmascarar estes
últimos. Diferentes dos da categoria a que, se descobertos, não
dão a mínima para o que pensem deles, estes últimos, ocultos atrás da máscara
da pseudomodéstia, fazem-se de vítima. Só pessoas de uma certa maturidade do
senso moral é que têm mais facilidade de entender-lhes os propósitos, de
divisar-lhes a arrogância maquiada de simplicidade. Pois é, os dessa categoria
são os hipócritas dos hipócritas, os mais difíceis de acusar o fundo das
intenções. Ao contrário dos da categoria a, se revelados, não poupam
esforços para revertério de um quadro desfavorável como se o destino os tivesse
feito sucumbir a uma grande e injusta tragédia. (Esta categoria, de
algum modo, tem muito a ver com os antigos escribas e fariseus, os que tinham
Jesus por inimigo.)
Vale ressaltar, no entanto, que
tais qualidades podem até se resumir em uma ou em outra categoria, sendo ambas
as espécies de hipócritas por demais parecidas. Esforçando-se por realizar
obras benemerentes, eles têm boas palavras, frases que impressionam para que os
outros pensem que são realmente bonzinhos, caridosos, justos e acima de
qualquer suspeita. No íntimo, num ou noutro caso, eles sempre ambicionam
algo... Os hipócritas não passam de pessoas sem nenhuma seriedade e, de contínuo,
não têm palavra, é claro, como todo bom impostor que se preze. Ainda que ajudem
asilos, hospitais, os pobres com a cesta básica, o agasalho, a cadeira de
rodas, o enxoval de bebê da mãe solteira etc., no fundo, vivem de uma
impostura.
Concluindo: temos de combater o
mal, sim, sem, contudo, oprimir, esmagar quem o pratica, caso contrário
estaremos automaticamente a incorrer em contradição. O bom senso manda
admoestar sem difamar para não expandir sentimentos de vingança, mesmo que
alguém tenha feito por onde. Hipócritas de qualquer setor humano, sobretudo o
religioso, podem iludir os homens; todavia, jamais a Deus que tudo vê e sabe o
que se passa no fundo do coração de cada um de nós. É pela árvore que se
conhece os frutos...
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1KARDEC, Allan. O evangelho segundo o espiritismo. Tradução
Herculano Pires. 62. ed. São Paulo: Lake — Livraria Allan Kardec Editora, 2001.
Capítulo 00, item 000, página 000.
2Do jeito como andam as coisas no âmbito das religiões e seitas
ocidentais, é muito provável que, se Jesus voltasse mesmo ao mundo como esperam
escribas , fariseus e saduceus de hoje que, por ironia do destino, se intitulam
“cristãos”, com certeza, Ele seria muito mais severo.
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