Paz no lar, paz no mundo

Davilson Silva-

Paz, sinônimo de concórdia, de entendimento entre criaturas humanas, começaria essencialmente num reduto doméstico. Lar, esse bendito recesso da conjuntura consanguínea. 


Falando-se em paz, remetemo-nos logo a países sem lutas, sem violência e tumulto de toda a sorte. Há colóquios de paz pelo desarme de grandes nações que, vez por outra, acabam em insultos e ameaças, resultantes da falta de base do verdadeiro sentido de fraternidade. Entende-se também por paz o direito de se respirar em clima de perfeita quietude, longe dos demais transtornos da esfera social.

Paz, sinônimo de concórdia, de entendimento entre criaturas humanas, começaria essencialmente num reduto doméstico. Lar, esse bendito recesso da conjuntura consanguínea, significa sublime fonte da educação para o êxito dos valores morais e intelectuais ante os transes complexos da existência; se bem conhecidos e compreendidos, esses valores ajudam sobremaneira a criatura humana a superá-los. Em tese, lar é um espaço onde se dariam por princípio as primeiras noções de convivência proveitosa em prol de uma sociedade mais humana, fraterna, segura e justa.

Âmbito em louvor ao exercício da perfeita dignidade, cada núcleo doméstico se caracteriza pela conduta de seus membros. Quis Deus que, na ambiência familial, as virtudes conduzidas pela firmeza de caráter fossem levadas a efeito pela crença nos vínculos interpessoais saudáveis segundo lei do bem irrestrito, sobretudo em relação aos mais próximos, incluindo nesse bem qualquer ser vivo organizado, dotado de sensibilidade com ou sem movimento, afora o conjunto de condições peculiares e de influências atuantes em nosso meio ambiente. Quem de verdade ama a Deus sobre todas as coisas e o próximo como a si mesmo ama o ar que respira, rios, mares, plantas, animais.

Mais que um aglomerado de pessoas, o instituto de convivência foi para o auxílio em comum entre a parentela consanguínea. Sendo, ainda, importante grupo de reeducandos, lares terrenos deveriam ser primorosos recintos de nobre tradição moral com base na solidariedade e respeito fraternos entre os seus indivíduos.

Por isso, Deus, a eterna e suprema bondade, e justiça!, fez as criaturas associarem-se em regime de reparação através do meio palingenésico, tendo em vista o exercício da boa convivência em favor do progresso espiritual. Mas a família consanguínea, não se iluda, segundo o Espírito Emmanuel, “é formada de agentes diversos visto que nela se reencontram habitualmente afetos e desafetos para reajustes indispensáveis ante a lei do destino” (grifamos).¹ Cada lar representa a garantia da sobrevivência dos valores morais de interesse do próprio gênero humano, e não dá para estabelecer o bem em nossa sociedade sem essa garantia.

Filhos drogados, criminosos


Por exemplo, a gente se enche de dó ante lastimoso padecer de mães afligidas por filhos viciados em drogas leves ou pesadas, principalmente, se estes se transformaram em criminosos cruéis, alguns dos quais homicidas a partir da infância... Muitos infortúnios não ocorreriam, se certos pais combatessem desde cedo em seus filhos o princípio das más tendências: o orgulho, filho do egoísmo, “fonte de todas as misérias humanas”.² Cobrando explicação de si mesmos ou do Criador, é comum aquela patética e famosa pergunta: “Onde foi que eu errei?!” A maior parte de pais e mães considera filhos propriedade exclusiva e, ao colherem o que semearam, ou seja, a falta de respeito, a ingratidão, julgam-se os maiores “coitadinhos”...³

Concluindo, a paz entre as potências do mundo só será realmente obtida com base na fraternidade pura, com responsabilidade e respeito mútuos, sem restrição, e não apenas à custa de manifestações públicas, de gesticulações, exibições de símbolos, de cartazes e de anúncios na TV. Gente! Paz verdadeira não depende de eventos de caráter diplomático, nas mais das vezes sem nenhum efeito positivo, notabilizados por atitudes teatrais de sorrisos, abraços e apertos de mão para sair no noticiário. Não adianta: paz, exatamente, tem de começar primeiro em casa e ponto final.

Como vimos, lar não é apenas uma construção em certo espaço de terreno, limitada por paredes e tetos, com sala, quarto, cozinha, demais dependências e o carro na garagem... Quando nos referimos à família, não falamos de um grupo de pessoas do mesmo sangue, reunidas num mesmo endereço destinado a repastos, descanso e lazer, nem nos referimos a indivíduos que não costumam dirigir cumprimentos nem pedir licença, desculpas, um não sabendo onde o outro está, se volta cedo ou tarde, ou se não volta...

Fiquemos, portanto, com estas brilhantes palavras da veneranda Joanna de Ângelis, sublime especialista em ciência dos fenômenos psíquicos e do conjunto de reações da individualidade encarnada:
A Doutrina Espírita, atualizando a lição evangélica, descortina na família esclarecida espiritualmente a Humanidade ditosa do futuro promissor. Sustentá-la nos ensinamentos do Cristo e nas lições da reta conduta, apesar da loucura generalizada, que irrompe em toda a parte, é o mínimo dever de que ninguém se pode eximir.4 

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1 CÂNDIDO XAVIER, Francisco. Vida e sexo (pelo Espírito Emmanuel). Tradução Herculano Pires. 10. ed. Rio de Janeiro: Federação Espírita Brasileira (FEB), 1988. Tema 2, p. 13.

2 KARDEC, Allan. O evangelho segundo o espiritismo. Tradução Herculano Pires. 62. ed. São Paulo: Lake — Livraria Allan Kardec Editora, 2001. Cap. 11, item 11, p. 151.

3 _____. _____. Cap. 5.o, item 5, p. 73.

4 PEREIRA FRANCO, Divaldo. Estudos espíritas (pelo espírito Joanna de Ângelis). Rio: FEB, 1983. Tema 24, p. 175.

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