Davilson Silva-
Mais um daqueles casos dignos de nota, narrado pelo escritor
Ramiro Gama em seu livro: Lindos Casos de Chico Xavier. Segundo
Gama, certa ocasião do dia 7 de março de 1948, em Belo Horizonte, o médium e
alguns confrades amigos estavam reunidos em um lugar da simpática capital
mineira, Alto do Cruzeiro. Lá olhavam extáticos o admirável e extenso panorama
que se descortinava em noite clara e suave.
Um dos admiradores da bonita paisagem noturna
belo-horizontina, provavelmente tão encantado quanto Chico e os demais
companheiros, sugeriu uma prece. Em seguida, o grupo, em postura respeitosa,
sob o influxo de sublime inspiração, principiou o que se propusera.
Terminada a prece, um confrade do Sul de Minas indagou:
— Alguém da vida espiritual conosco, Chico?
— Sim, vejo um homem chorando ao seu lado, disse o
médium.
— O nome dele?
— João Guedes.
— Conheci. Era um pobre moço amigo meu, poeta da minha
terra que, infelizmente, deu a morte a si próprio. Desejará alguma coisa,
Chico?
— Sim. Ele diz que pretende deixar-nos uma lembrança.
Alguém traz consigo papel e lápis?, indagou de todos o bondoso médium.
Logo alguém providenciou lápis e papel. Apoiado num dos
postes da iluminação urbana, Chico começou a escrever celeremente o que a
Entidade ditava.
Ao terminar o inopinado texto psicográfico, foi lida a seguinte composição poética:
Os torvos corações, náufragos de mil vidas,
Distantes de Jesus, que nos salva e
aprimora,
Sob o guante da dor, caminham de hora a
hora,
Para o inferno abismal das almas
consumidas...
Sementeiras de pranto, aflições e
feridas,
No pesado revel que os requeima e
devora...
Depois, a escuridão da noite sem aurora
E o sarcasmo cruel das ilusões
perdidas...
Alma triste que eu trago, ensandecida e
errante,
Por que fugiste, assim, no milagroso
instante?
Por que rogar mais luz, se, estranha, te
sublevas?
Ah! Mísera que foste, hesitante e
covarde...
Não lamentes em vão, nem soluces tão
tarde...
Procuremos Jesus, além de nossas trevas!
João Guedes
Assim, o confrade, depois de ouvir a página do amigo poeta desencarnado, recebeu a folha psicografada pela admirável mediunidade de Chico e, comovido, guardou-a carinhosamente, enxugando as lágrimas.
“A Doutrina Espírita pode ser comparada a uma
luz que nos foi entregue. Imaginemos uma lâmpada acesa... Sentimos aquela
alegria imensa no primeiro momento, uma felicidade muito grande,
descobrimos que a vida continua, que estamos a caminho da perfeição... Daí
dois, três dias, a Luz vai iluminando
e vamos nos conhecendo por dentro, à maneira de uma casa abandonada há séculos... Entramos, então, nesse estado de inquietação, de amargura
que não devemos conservar... Precisamos manter a alegria de termos recebido
aquela Luz e devemos perseverar — ainda mesmo que as imperfeições se
avolumem dentro de nós — como quem está reconstruindo a si mesmo...”
(Do livro: Chico Xavier, mediunidade e vida, de Carlos Bacelli.)
No comments :
Post a Comment