Para uns , sexo é sinônimo de
imoralidade , para outros , não.
Encerrada a palestra em uma
instituição espírita, algumas das pessoas simpáticas, fraternas, que
prestigiaram o evento, logo se aproximaram para falar comigo. A Família é
o Alicerce da Humanidade foi o tema por mim discorrido, em fins dos anos
90 do século anterior, a convite da USE Distrital Jabaquara (órgão
da União das Sociedades Espíritas do Estado de São Paulo). Antes que
alguém falasse comigo, um rapaz junto a uma linda moça, mais que depressa,
pediu-me que eu o atendesse reservadamente, cochichando esta pergunta: “Como os
Espíritos veem o ato sexual? Certas posições sexuais seriam imorais?”
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Na intimidade
de um casal do século 18
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Esse objeto suscita realmente
observação sob diversos ângulos. Tabus, preconceitos, superstições fazem parte
do aspecto, da análise dos fatos. Ao se falar em prazer sexual, muitos pensam
logo em algo execrável. Grupos religiosos ultraconservadores viram no sexo algo
impuro, um ato meramente animalizado que lhes representa uma das pedras no
sapato. Esse tópico tem sido alvo de exame de estudiosos, especialistas em
psicanálise, em sociologia.
O Espírito Joanna de Ângelis opinou
sobre o caso e referiu-se a prejuízos autorizados pela própria tolerância do
caráter humano. Joanna considera fundamental o sexo para o “milagre
procriativo”, um dos mais importantes fatores integrantes da índole humana,
segundo ela, “graças aos ingredientes estimuláveis ou desarmonizadores do
equilíbrio, de que se faz responsável”. O sexo passou nas civilizações antigas
a campo de intenso sensualismo, disse a veneranda Entidade, cujos excessos
chegaram a motivar a queda de alguns Impérios.¹
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Ilustração antiga de uma
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Apesar desse equívoco, de ações
radicais, o sentido de moral da organização religiosa não deixou de se
constituir em freio ao despudor. A Igreja influiu em quase todas as atividades,
especialmente na problemática sexual desde o Império Romano. Naquele tempo,
qualquer mulher podia pertencer a qualquer homem e vice-versa e eram comuns
filhos bastardos, produto dos festins licenciosos em residências.
Não havia efetivamente laços de
família, daí, o clero valer-se de medidas enérgicas, cruéis. A igreja, a se
expandir cada vez mais, determinara aplicar a violência como único recurso de
conter orgias regadas a vinho. O tempo passou, passaram os costumes, os lares
também, assim como a transmissão de conhecimentos, o processo de desenvolução
da capacidade física, intelectual e moral do ser humano.
Tudo mudou em tese. Com o
aparecimento da civilização consumista, ou sistema em favor do consumo
exagerado, o comportamento humano com relação à libido tem se expandido em
espaços significativos da chamada mídia digital. O consumismo de bens materiais
parece ter tornado mais forte a libertinagem e, com isso, intensificado antigas
perturbações e distúrbios psíquicos.
Programas de auditório de emissoras
de TV, especialmente a Internet, têm vulgarizado o erótico-pornográfico por
conta de suposta liberdade. Crianças, adolescentes vivem debaixo de verdadeiro
bombardeio de imagens ou de situações incitantes da libido, haja vista a média
de iniciação de mocinhas, que é de 15 anos, e as doenças ginecológicas das
quais padecem. De há muito vem aumentando o número de meninas grávidas, um
problema sociocultural tanto das grandes cidades quanto das cidades onde não há
shoppings nem cinemas, nem outros meios de entretenimento.
Conflitos íntimos, psicológicos
Há esse desequilíbrio, segundo
Joanna, porque cada pessoa traz consigo traços peculiares referentes a
conflitos íntimos obscuros, psicológicos profundos. A criatura humana não deixa
de possuir qualidades adquiridas nas suas tentativas palingenésicas, e, em
substância, querendo aceitar ou não, o Espírito encarnado é como se expõe à
vista; ninguém muda de um dia para o outro, nem a morte zera tudo. Atitudes e
respostas, numa existência, marcarão no futuro o modo de ser da Alma na índole
humana masculina ou feminina consoante imperativos da Lei de Causa e Efeito.
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Vênus e
Adonis, de Cornelis van Haarlem
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Comentou a respeito do sexo outro
sábio da Espiritualidade, o Espírito Emmanuel:
Desarrazoado subtrair-lhe as manifestações
aos seres humanos, a pretexto de elevação compulsória, de vez que as sugestões
da erótica se entranham na estrutura da alma, ao mesmo tempo que seria absurdo
deslocá-lo de sua posição venerável, a fim de arremessá-lo ao campo da aventura
menos digna, com a desculpa de se lhe garantir a libertação.1
O deleite sexual foi-nos outorgado
por Deus para a felicidade e harmonia universais; mas, até entenderem o
verdadeiro significado da força de atração física e suas implicações, ainda vai
levar muito tempo. Fazer sexo é tão importante quanto o ato de respirar, de
ingerir alimentos e, sob outro ponto de vista, um meio de transferência de
energia indispensável ao vigor físico-mental mútua e simultaneamente.
Os Espíritos veem no sexo algo
respeitável, a exigir educação e controle, sem nunca descurar da higiene a fim
de impedir doenças. Os Amigos Espirituais não o reconhecem como um ato
“impuro”, “animalizado” conforme o conceito pseudomoralista. Foram essas
palavras a resposta dada ao moço junto à sua companheira (eram noivos).
Quanto à outra pergunta, “certas
posições sexuais seriam imorais”, Deus, os bons Espíritos não estão preocupados
com certas condutas eróticas. Aquilo que for posto em prática entre quatro
paredes por um casal será da inteira responsabilidade de cada um. A conduta
humana apresentar-se-á de acordo com o nível evolutivo da pessoa, mas quem
desrespeitar, causar constrangimento, infortúnio a uma parceira, ou parceiro,
arcará com as consequências da causa e efeito; lembremo-nos daquela
antiga lei: “Ame o próximo como a si mesmo”...
Nega a sabedoria e misericórdia
divina quem nega à criatura humana o direito do ato sexual que não se limita
exclusivamente à procriação. Muito embora a mídia insista de modo sutil ou
direto, afirmando que sexo é tudo, cego e ledo engano! Não, sexo não significa
tudo! Tampouco “troca de casais” e todo tipo de libertinagem não mantêm um
relacionamento sincero, sadio, estável. Pode-se dispensar o sexo sem
compromisso de voto eclesiástico de castidade. Sim, é possível, e exemplos
nunca faltaram quanto a alguém se sentir feliz, realizado, ao sublimar a
energia sexual, canalizando-a em favor do próximo, dos mais próximos, de todos.
O progresso da criatura humana
sofrerá prejuízo, se ela imediatamente não empenhar-se em sua espiritualidade.
Sem reforma íntima, não há equilíbrio biopsíquico. O Espírito que anima o corpo
de um homem pode animar o de uma mulher, assim como o Espírito que anima o
corpo de uma mulher pode animar o de um homem em futura existência. Sendo
assim, evitemos fazer comentários mordazes sobre toda dificuldade e problema de
alguém — não temos suficiente certeza do tamanho da prova afetiva que nos
aguarda numa ou noutra configuração própria. O clímax do ato sexual, impelido
por mútua tendência afetiva com sentimento de apreço, será sempre oportuno e
saudável.
__________________________________________________
1FRANCO, Divaldo P. Estudos Espíritas. Pelo
Espírito Joanna de Ângelis. 3. ed . Federação Espírita Brasileira (FEB), 1982.
Capítulo 20, página 152.
2XAVIER, Francisco C. Vida e sexo .
Pelo Espírito Emmanuel. 10. ed . Rio de Janeiro: FEB, 1988. Cap. 1. º, p. 10..
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