Davilson Silva-
No caso do Cristianismo dos
teólogos, o Cristo mitificado por Paulo não tem lógica pela incoerência da
afirmativa segundo a qual ele e o Pai seriam uma só pessoa.
Escudo da
Trindade, ou diagrama tradicional Scutum Fidei do simbolismo medieval
cristão ocidental, desde o século XII.
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Segundo pensam alguns historiadores, Paulo, com o propósito
de que Roma mais facilmente aceitasse os ensinamentos de Jesus, nivelou-o às
divindades de lá. Dizem que o Apóstolo dos Gentios endeusou e mitificou o
Mestre Nazareno para satisfazer interesses do patriciado, sendo ele, Paulo,
cidadão romano.
Paulo o colocou na mesma altura de outros deuses das crenças
bem mais antigas, além de igualar Mestre Jesus aos deuses romanos e àqueles
cheios de mistérios e de cultos secretos, pertencentes ao Egito, Índia, Pérsia,
Grécia e outros. Tal parecer vem dos que admitem apenas o Jesus histórico, como
o historiador especulativo Michael Baigent, o contista Richard Leigh e o
escritor-jornalista Henry Lincoln, autores da obra O Santo Graal e a Linhagem Sagrada, livro best-seller com 17
edições na Inglaterra.
Atena, Apolo, Hermes, Artemis, Poseidon, Eros,
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Historicamente, não se sabe quando os primeiros grupos
primitivos conceberam e passaram a render culto a esses símbolos plenos de
poderes especiais, concebidos à imagem e semelhança do homem.
Não se sabe em que época surgiu a ideia. As primeiras
concepções teriam aparecido nos períodos Paleolítico e Neolítico, manifestadas
pelo sentimento humano de um vínculo com a Terra, com a Natureza, com os ciclos
e a fertilidade. A ideia mais moderna de deuses, dizem provir das religiões
suméria, védica e egípcia, existentes por volta de 3.600 a.C.
Era comum terem por filhos de alguma divindade certos
homens. Aquele que se destacasse dos demais por sua sabedoria e primazia moral
era, portanto, considerado uma dessas divindades, segundo se pensava,
consequência da união delas com criaturas humanas do sexo feminino. O conjunto
de mitos greco-romanos refertos de sentimento do extraordinário e magnitude de
seus políticos, guerreiros e filósofos apresenta como filhos de deuses tais
personalidades conscientes, de intelecto, desejos e emoções bastante humanas; não
raro, detentores do poder, reputavam-se autoridades supremas e faziam-se
obedecidos, impondo suas leis.
Refutações e
ressalvas
A Suprema Santíssima
Trindade cristã: Deus,
Jesus Cristo e o espírito Santo
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Paulo teria sido o grande responsável pelo endeusamento de
Jesus de Nazaré em cartas e pregações, dizem. Estudiosos de textos evangélicos
acreditam que Paulo incluiu Jesus no número das divindades de personificação
masculina superiores aos homens. Há uma passagem que parece aludir a isto em
Romanos, capítulo 9, versículo 5, no qual Paulo chama Jesus de “Deus bendito
para sempre”; ainda assim, não se pode categoricamente afirmar que o apóstolo
tenha querido dizer que Jesus seria o próprio Deus, segundo pensamos.
Em nosso entendimento, Paulo jamais afirmou que Jesus fosse
Deus, como também sugere esta outra passagem igual àquela: “Deus bendito para
todo o sempre” (1.a Coríntios: 8, 5). Essa suposta apoteose do
Mestre procederia bem mais de João Evangelista que de Paulo (João, um dos
principais líderes do Cristianismo Primitivo, junto com Tiago, irmão de Jesus).
Quem mais deu força a essa ideia foi de fato o Evangelista, quando do “eu e o
Pai somos um” (Jo.: 10, 30), e no capítulo 14, versículo 9, há o “quem me vê a
mim vê o Pai”.
É nessas duas referidas passagens de João que os
literalistas alegam a divindade de Jesus. O curioso é que eles não consideram
este trecho em que João diz mais adiante: “Pai Santo, guarda-os em teu nome,
que me deste, para que eles sejam um, assim como nós”. Note, nesta passagem,
que o Mestre deifica os apóstolos (Jo.: 17, 11, 21). Jesus nunca afirmara ser
Deus. O título a que Ele reiteradas vezes se atribuía era o de Filho do Homem.
Consta este dito 80 vezes nos evangelhos: 30 vezes no de Mateus; 14 vezes no de
Marcos; 26 vezes no de Lucas; 10 no de João. Poucas vezes Jesus autodenominou-se
“Filho de Deus”. Os discípulos e outros assim o chamavam. “Filho de Deus”,
necessariamente, não significa o próprio Deus como se infere do Evangelista,
cap. 1. º, vers . 2: “A todos quantos o receberam, deu-lhes o poder de se tornarem
filhos de Deus”.
A propósito, Krishna era igualmente chamado “Filho de Deus”.
Essa figura central do Hinduísmo, considerada a Segunda Pessoa da Trindade,
consoante escrituras hindus, como Cristo, é o “único salvador do mundo”, “o
verbo criador”. De acordo com o Bhagavata Purana, Krishna nasceu
miraculosamente de um parto virginal, do ventre de Devaki, sua mãe terrena,
como aconteceu à mãe de Jesus, Maria de Nazaré, ambas “concebidas sem pecado”.
Krishna transfigurou-se, e era visto ainda como o Messias e a “palavra de
Deus”; autor de muitas curas milagrosas, a declarar-se “caminho, verdade e
vida”: Eu sou o caminho [...]; eu sou a vida [...]; sou eu mesmo a luz da
Verdade [...]”.
Jesus foi um ser humano como outro qualquer deste planeta. Ele, consoante a Doutrina Espírita, representa o ser mais puro visto neste mundo, o tipo mais perfeito para servir de guia e modelo aos Espíritos encarnados e desencarnados pegados à Terra. No conceito do mestre Allan Kardec, ele é o tipo da pureza moral a que pode aspirar a Humanidade, e a doutrina ensinada por ele é a mais pura expressão da lei divina. De fato, outros ensinaram o que Jesus ensinou; mas os sentimentos demasiadamente terrenos, sendo dominantes, fizeram-nos confundir leis divinas com leis humanas. Só que um Espírito do valor de um Jesus de Nazaré, que não reencarnou, e sim encarnou na Terra, veio aqui e ensinou como se faz o bem, exemplificando-o; eis a diferença.
Jesus foi um ser humano como outro qualquer deste planeta. Ele, consoante a Doutrina Espírita, representa o ser mais puro visto neste mundo, o tipo mais perfeito para servir de guia e modelo aos Espíritos encarnados e desencarnados pegados à Terra. No conceito do mestre Allan Kardec, ele é o tipo da pureza moral a que pode aspirar a Humanidade, e a doutrina ensinada por ele é a mais pura expressão da lei divina. De fato, outros ensinaram o que Jesus ensinou; mas os sentimentos demasiadamente terrenos, sendo dominantes, fizeram-nos confundir leis divinas com leis humanas. Só que um Espírito do valor de um Jesus de Nazaré, que não reencarnou, e sim encarnou na Terra, veio aqui e ensinou como se faz o bem, exemplificando-o; eis a diferença.
Conclusão
Por endeusarem pessoas julgadas especiais no mundo antigo,
como vimos, os apóstolos assim foram vistos pelo povo, e pelo próprio Mestre de
Nazaré (ou de Belém, e há controvérsia!). Provavelmente, Paulo e João desejaram
projetar o Mestre como divindade, no meio de outras tantas. O Cristo do
Cristianismo dos teólogos, concordamos com os ilustres citados autores, não
passa mesmo de figura utópica.
Nem Paulo, nem João, segundo nosso ponto de vista, têm
responsabilidade pelo endeusamento de Jesus de Nazaré. Responsabilidade têm os
teólogos antigos e modernos: os antigos, por se aproveitarem daquele ambíguo
pensamento a respeito de Jesus; os modernos, pela defesa dos colegas antigos
sobre esse pensamento que convém ao dogma daquela famigerada trilogia a que se
apegam e similares.
O Cristo, em verdade, é o Homem de Nazaré. Os espíritas,
longe de verem em Jesus uma ama-seca, um camicase, veem nele o Mestre amigo e
inteligente, amoroso, o Irmão mais perfeito em virtudes, um Espírito de alta
hierarquia espiritual, vindo ao mundo para nos ensinar, sobretudo, como se ama
a Deus, e não como temê-Lo.
Jesus é um Deus... E por que não?! É claro ! Ele o é conforme
o que pensava João, Paulo, Tomé (João: 20, 28) e os Espíritos superiores,
porque ninguém melhor que Jesus merece esse título, com todo o respeito aos
demais objetos de culto das antigas civilizações.
E fazendo nossas as palavras de um ex-pastor protestante, o
digníssimo Jayme de Andrade, acerca de Jesus: Ele foi, com efeito, a mais
perfeita das criaturas que jamais pisaram neste planeta; nele se manifestou
corporalmente toda a plenitude da divindade (Paulo aos Colossenses: 2, 9), pois
em nenhum outro homem se apresentaram mais excelsas a sabedoria e a virtude.
É assim que os
espíritas sinceros, de verdade, pensam e seguem a Jesus, tomando-o como exemplo
nas ações do dia-a-dia, principalmente, respeitando todas as religiões, sem
ofender, dizer calúnias e condenação a quem quer que seja. Os que assim
procedem certamente que estão na contramão dos ensinamentos de Jesus. Não
passam de cristãos de boca.
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