Por que cristãos dizem que a Bíblia condena o Espiritismo, se, no tempo em que foi lançada, a Doutrina Espírita absolutamente não existia?
Será que a
Bíblia condena mesmo o Espiritismo? Por que certas pessoas insistem em dizer
que o melhor para os espíritas seria ler a Bíblia? “Vocês não conhecem a
Jesus”, exclamam .
Quer ver o
Evangelho ser realmente “pregado”, quer dizer, posto em prática? Aqueles que
assim se referem, deveriam, antes de propalar tamanhos absurdos, fazer uma
visita a uma de nossas instituições de caridade, como os núcleos espíritas em
dias de suas reuniões públicas de palestra evangélica; deveriam visitar
creches, hospitais, orfanatos e asilos espíritas.
Quanto à
Bíblia Sagrada, por que a Bíblia condenaria o Espiritismo, se o Espiritismo
absolutamente não existia quando a lançaram? Quem afirma que a Bíblia o
desaprova induz os que lhes dão ouvidos em erro. É uma inverdade ! Desde os
primeiros trechos do Antigo Testamento (AT) que se tem notícia (décimo século
antes de Cristo), ou desde o seu primeiro exemplar lançado em Alexandria (1.º
século, a. C.), não há sequer uma ínfima alusão à Doutrina dos Espíritos,
codificada por Allan Kardec. Esta foi dada a conhecer em 18 de abril de 1857,
século 19, portanto.
Respeitamos
o conteúdo bíblico como um documento histórico do povo hebreu, sobretudo, por
alguns preceitos elevados. Tudo quanto foi escrito em O Livro dos Livros, uma
das mais antigas e controvertidas obras de todos os séculos, a base da doutrina
judaico-cristã passou pela mão de homens, os hagiógrafos, “escritores
inspirados”, que inicialmente escreveram-na em hebraico, em aramaico e
grego.
Os
primeiros livros da Bíblia Sagrada (são 46 ao todo) foram traduzidos inúmeras
vezes. De tradução em tradução, escrita no espaço de mil anos ou, no entender
de alguns, mil e quatrocentos a mil setecentos anos, não se pode garantir
fidelidade aos textos originais. Diz a lenda, segundo a epístola de Aristeia,
que, um dia, cerca de setenta judeus dos mais respeitáveis e cultos escreveram
a primeira tradução do AT, distantes uns dos outros, o que, depois, foi
supostamente comparada e julgada idêntica entre si. Falamos da “Tradução dos
Setenta”, tradução oficial grega a que alguns reputam fidedigna, e outros
não.
Certos
religiosos insistem na afirmativa de que o Espiritismo tem ligação com
adivinhadores, magos, quiromantes, cartomantes, feiticeiros etc., por isso a
Bíblia, “a palavra de Deus”, o “condena”. Admitindo-se que adivinhos, magos,
feiticeiros e seja lá quem for possuam dons mediúnicos, em geral para explorar
indivíduos incautos, porquanto a mediunidade não é privilégio de ninguém, nada
tem a ver o Espiritismo com o que fazem. Os médiuns verdadeiramente espíritas
sabem o valor desta máxima: “Dai de graça o que de graça haveis recebido” (Mateus
10, 8); vide o exemplo de Chico Xavier, Divaldo Pereira Franco e de outros
ilustres e abnegados médiuns espíritas.
Bíblia
condena evocação dos mortos
Nossos
detratores baseiam-se em certos preceitos para justificar a “condenação da
Bíblia”, um deles: a “evocação dos mortos”. Escreveu o nosso confrade,
ex-pastor protestante, Jayme de Almeida, em sua excelente obra: O Espiritismo e
as Igrejas Reformadas: “Mas, se nossos irmãos continuam fazendo absoluta
questão de que sejam rigorosamente observados os preceitos mosaicos,
lembraríamos que não devem discriminar, porém estender a observância de todos
os preceitos, e não apenas daqueles que proibiriam a “evocação dos mortos”.
“Os incircuncisos que não forem circuncidados serão
eliminados” (Gênesis 17:14); “Quem ferir alguém que morra, certamente será
morto” (Êxodos 21:12); “Quem amaldiçoar pai ou mãe, será morto” (Êx. 21:17);
“Quem fizer alguma coisa no sábado morrerá” (Êx. 31:15); “Gordura nem sangue,
jamais comereis” (Levítico 3:17); “Quem comer sangue, será morto” (Lev. 7:27).
Observe-se que até aos “gentios” foi prescrita a abstenção do sangue (Atos
15:20, 29 e 21, 25); “Quem se chegar a uma mulher no período, ambos serão
mortos” (Lev. 20:18); “Quem desfigurar o seu próximo, como ele fez, assim lhe
será feito” (Lev. 24:19); “Um filho desobediente deve ser apedrejado até que
morra” (Deuteronômio 21:18, 21); “Mulher que vestir traje de homem, ou
vice-versa, é abominação ao Senhor” (Deut. 22:5); “Mulher casada não achada
virgem, deve ser apedrejada até morrer” (Deut. 22:21); “Quem se chegar a mulher
casada, ambos morrerão” (Deut. 22:22).
Muito
embora reconhecendo as múltiplas contradições, que ferem o bom senso e
desabonam as leis naturais, o Espiritismo não condena a Bíblia nem persegue
quem cegamente por ela se baseia. No entanto, é comum ouvirmos elementos
julgando os espíritas como se estes fossem inimigos de Cristo, sugerindo-lhes insistentemente
a leitura da Bíblia como se os espíritas fossem um bando de idiotas ociosos,
ignaros e crédulos, uns maria-vai-com-as-outras.
O Espiritismo é uma doutrina de homens sérios, estudiosos e desprendidos, haja vista, nas suas lides, não só a presença de pessoas de atividades simples como a de astrônomos, astrofísicos, físicos, químicos, médicos, filósofos, psicólogos, advogados, juízes de direito, delegados de polícia, jornalistas, escritores pessoas que pela convicção arrazoada abraçaram o Espiritismo, vendo nos seus conceitos um desdobramento do ensino moral de Jesus.
O Espiritismo é uma doutrina de homens sérios, estudiosos e desprendidos, haja vista, nas suas lides, não só a presença de pessoas de atividades simples como a de astrônomos, astrofísicos, físicos, químicos, médicos, filósofos, psicólogos, advogados, juízes de direito, delegados de polícia, jornalistas, escritores pessoas que pela convicção arrazoada abraçaram o Espiritismo, vendo nos seus conceitos um desdobramento do ensino moral de Jesus.
Para o
Espiritismo, o mais importante é a parte moral das chamadas “escrituras
sagradas”, cujos principais pontos dessa parte são encontrados nos ensinamentos
que se resumem nesta máxima: “Amar a Deus sobre todas as coisas e o próximo
como a si mesmo”.
A Bíblia
efetivamente não é a “palavra de Deus”, e, sim, é um livro humano como outro
qualquer, possuindo as naturais falhas humanas, embora, repito, encerrando
alguns belíssimos e sublimes trechos. Não só respeitamos essa obra como as de
outras doutrinas antigas, escritas pela mão do homem; todavia, é possível
prosseguir na vã ilusão: a de, bem próximo aos olhos, tapar o Sol com uma
minúscula moeda. Fazer o quê, né?!
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