Davilson Silva-
Quem não é capaz de admirar flores formosas, coloridas e
cheirosas?! Muitas delas enfeitam bosques, jardins, salões, tornando qualquer
ambiente mais belo, ao ofertarem emotiva e inefável alegria. Algumas nada
transmitem ao íntimo, é certo. Não propriamente bonitas, sem nenhuma graça e
nenhum encanto, mesmo assim, elas servem de reprodução sexuada das plantas que
se lhes referem.
Diante de um flóreo arranjo exposto num jarro, no jardim ou
em qualquer outro ambiente, não fazemos ideia do quanto lhe custou a policromada
formosura. Depois das intempéries e de eventuais vicissitudes, do triturar
contínuo e aos pedaços dos insetos famintos, inertes e frescas, as flores
resistem proscritas e nostálgicas por, talvez, uma irredutível saudade da terra
natal. Ainda assim, elas espargem aroma ao se verem expostas a olhares
contemplativos; este o seu destino, esta a sua missão até que a perda da
exuberância de vida lhes desprenda o caule do côncavo cativeiro.
Nesta existência, daqui deste nosso mundo, repetida
vezes, para chegarmos ao fim do cumprimento de nossas atribuições,
por analogia, devíamos ser como as flores. Elas denotam sublimada
renúncia de si mesmas, e as borboletas, o lenitivo, representam-lhes a
perpetuidade da espécie.
E por falar em borboletas, o preço da continuidade
também se lhes afigura processo doloroso. “Antes de conhecer a
borboleta, tenho de suportar-lhe as larvas”, disse a flor para o pequeno
príncipe, segundo o notável Exupéry.
Servem as flores, servem as borboletas! As borboletas, por
sua vez, também possuem a sua cota de renúncia e sofrimento.
Nós deveríamos ser tais quais as lindas e delicadas flores... Ainda que,
entre circunstâncias penosas da existência, prestar um serviço em
ajuda ao próximo é a melhor iniciativa pelo bem da nossa integridade. Ao
servirmos voluntariamente quem precisa, esquecemo-nos de nosso sofrer, das
tribulações. Por conta disso, sem o percebermos, a nossa dor se dissipa, o
problema desaparece, por termos sido capazes de alegrar a vida e espargir o
aroma da bondade.
E então! Não nos deixemos abater pelas limitações, pelos
reveses de nossos momentos. Meu amigo ou minha amiga, tudo nesta vida passa...
As dores não duram para sempre, respostas existem e sempre acontecem, se nos
conservarmos prestativos e humildes; por sinal, a única força que Deus
considera é a da humildade; para Ele, é a mais agradável das virtudes. Todos
nós podemos servir de alguma forma os semelhantes, os animais, enfim, à
Natureza como a Natureza nos serve.
Tal como as borboletas que passam por diversos estágios segundo o ciclo da vida, do ovo ao imago de sua fase adulta, as
flores que lhes servem o néctar experimentam situações transitórias muitas
vezes delicadas, tudo lhe acontece desde o vínculo de uma célula
sexual masculina com uma feminina; ambas formam os frutos e as sementes que
contém o embrião que dará origem a uma nova planta da mesma espécie.
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