Ser como as flores

Davilson Silva-

Quem não é capaz de admirar flores formosas, coloridas e cheirosas?! Muitas delas enfeitam bosques, jardins, salões, tornando qualquer ambiente mais belo, ao ofertarem emotiva e inefável alegria. Algumas nada transmitem ao íntimo, é certo. Não propriamente bonitas, sem nenhuma graça e nenhum encanto, mesmo assim, elas servem de reprodução sexuada das plantas que se lhes referem.

Arte concebida em dezembro de 1998, São Paulo, Brasil, 
numa  reunião mediúnica pública, através da minha
 mediunidade de pintura. Pintura feita a dedo,  sem esboço, 
sem  uso de pincéis, espátulas e sem nenhum acessório,
foi executada pelo Espírito Odilon Redon (1840/1916), 
sob fraca iluminação de uma lâmpada vermelha  
(que anula todas as cores) através do processo de
“incorporação inconsciente”.
Copyright © by Davilson Silva
Diante de um flóreo arranjo exposto num jarro, no jardim ou em qualquer outro ambiente, não fazemos ideia do quanto lhe custou a policromada formosura. Depois das intempéries e de eventuais vicissitudes, do triturar contínuo e aos pedaços dos insetos famintos, inertes e frescas, as flores resistem proscritas e nostálgicas por, talvez, uma irredutível saudade da terra natal. Ainda assim, elas espargem aroma ao se verem expostas a olhares contemplativos; este o seu destino, esta a sua missão até que a perda da exuberância de vida lhes desprenda o caule do côncavo cativeiro. 

Nesta existência, daqui deste nosso mundo, repetida vezes, para chegarmos ao fim do cumprimento de nossas atribuições, por analogia, devíamos ser como as flores. Elas denotam sublimada renúncia de si mesmas, e as borboletas, o lenitivo, representam-lhes a perpetuidade da espécie.

E por falar em borboletas, o preço da continuidade também se lhes afigura processo doloroso. “Antes de conhecer a borboleta, tenho de suportar-lhe as larvas”, disse a flor para o pequeno príncipe, segundo o notável Exupéry.

Servem as flores, servem as borboletas! As borboletas, por sua vez, também possuem a sua cota de renúncia e sofrimento. 

Nós deveríamos ser tais quais as lindas e delicadas flores... Ainda que, entre circunstâncias penosas da existência, prestar um serviço em ajuda ao próximo é a melhor iniciativa pelo bem da nossa integridade. Ao servirmos voluntariamente quem precisa, esquecemo-nos de nosso sofrer, das tribulações. Por conta disso, sem o percebermos, a nossa dor se dissipa, o problema desaparece, por termos sido capazes de alegrar a vida e espargir o aroma da bondade. 

E então! Não nos deixemos abater pelas limitações, pelos reveses de nossos momentos. Meu amigo ou minha amiga, tudo nesta vida passa... As dores não duram para sempre, respostas existem e sempre acontecem, se nos conservarmos prestativos e humildes; por sinal, a única força que Deus considera é a da humildade; para Ele, é a mais agradável das virtudes. Todos nós podemos servir de alguma forma os semelhantes, os animais, enfim, à Natureza como a Natureza nos serve.

Tal como as borboletas que passam por diversos estágios segundo o ciclo da vida, do ovo ao imago de sua fase adulta, as flores que lhes servem o néctar experimentam situações transitórias muitas vezes delicadas, tudo lhe acontece desde o vínculo de uma célula sexual masculina com uma feminina; ambas formam os frutos e as sementes que contém o embrião que dará origem a uma nova planta da mesma espécie. 

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