A família é o alicerce da estrutura humana

Davilson Silva-

A família resulta da união homem-mulher, ao se elegeram para a vida em comum, geralmente mediante formalidade de um contrato de consórcio permanente. Há mesmo necessidade de casamento? 
  

O sentido de Família vem desde os primórdios da Criação, na Terra, a começar dos micro-organismos, oriundos do protoplasma, matéria amorfa e viscosa, o embrião de todas as organizações do globo terrestre. Os organismos microscópicos deram início às primeiras manifestações no plano material da evolução. As células albuminoides, as amebas e todas as organizações unicelulares, independentes e espalhadas, propagavam-se rapidamente. Em águas mornas oceânicas da aurora dos elementares sinais de vida da Proterozoica (Era Proterozoica, período geológico cuja duração foi cerca de 4 bilhões de anos), elas se conservavam imersas.

Amebas primitivas multiplicavam-se para a vida, formando colônias, com o propósito da criação do grupo celular, de sorte que ensejavam os rudimentares ensaios no campo das relações entre seres da mesma genealogia. Era, portanto, o começo da gênese do progresso espiritual dos filhos de Deus, no planeta, o primeiro significado de evolução em conjunto.

Hoje nosso orbe é muito diverso do mundo da ideosfera da proto-história, do Oligoceno, de nossos remotíssimos ancestrais, os antropitecos, habitado por homens e mulheres aperfeiçoados geneticamente, inteligentes, dotados de livre-arbítrio. Ao se consorciar ao longo dos milênios, o ser humano necessitou gradativamente de uma base indispensável: o instituto conjugal; daí originou-se a estrutura social familiar. 

Especificações

Família é uma reunião de pessoas aparentadas que vivem, em tese, na mesma residência, composta de pai, mãe e filhos, indivíduos da mesma consanguinidade. Também quer dizer: conjunto de raças, grupo de seres de iguais caracteres, por uniões afins. 

Animal social, naturalmente monogâmico, o homem, através das épocas, agrupou-se, de acordo com a lei de sintonia e identidade, para sobreviver e perpetuar a espécie. Surgiram, assim, os clãs sociais. 

A família resulta da união homem-mulher, ao se elegeram para a vida em comum, geralmente mediante formalidade de um contrato de consórcio permanente. Há necessidade do casamento? Há. Sem este ajuste, a sociedade humana regrediria à condição dos animais. “O estado de natureza é o da união livre e fortuita dos sexos”, e “a extinção do casamento causaria o retrocesso à infância da Humanidade, ao colocar o homem abaixo de certos animais que lhe dão exemplo de uniões constantes” (questão 696, O Livro dos Espíritos). 

Benfeitores Desencarnados afirmaram que homens e mulheres apareceram no mundo com a incumbência de pôr em execução a sublime empresa do lar, levando a efeito  os  valores essenciais e intransferíveis, até se atingir o divino escopo de progresso universal. Como afirmou o Espírito Emmanuel, pela psicografia de Francisco Cândido Xavier, ou Chico Xavier: “A universidade poderá fazer cidadãos, mas apenas o lar pode edificar o homem”. 

Deus pensou em tudo, principalmente na concepção do instituto doméstico, visando, certamente, nobres expressões de sublimidade na Terra desde o início (*). Passou-se o tempo, estava instituída a salvaguarda da estirpe consanguínea, criados os anteparos de sua dependência, gerados os laços de família, as primícias desse pequeno universo global.

Idade Antiga e Idade Média


Os costumes mudaram sobremaneira, eis que surge no seio planetário uma das mais notáveis culturas da Antiguidade: a Civilização Helênica, império de Alexandre, o Grande. Neste verdadeiro cadinho de emulações, viu-se lamentável derrocada de anos de prosperidade pelo menoscabo da ideia de preservação da família. Desse aviltamento exclui-se Atenas cujas obrigações familiais, de sua jurisdição, ficaram sob a responsabilidade do Estado.

Já a educação dos filhos de romanos ficou a cargo dos patriarcas. Na Roma do passado, jubilosa e construtiva, mas também palco de crimes nefandos, de numerosos assassinatos e lúgubres espetáculos de carnificina, além da corrupção insofreável, a educação das gerações foi conduzida pelo patriciato. Em seguida, estes sistematizaram leis, possibilitando direitos e deveres à classe agrícola, militar, artística e popular.

A família sofreu sensível degradação na Idade Média por injunções dos príncipes da Igreja e dos senhores feudais. Eram tempos de obscurantismo... Mas, o futuro reservava grande perspectiva de restabelecimento ao núcleo familiar. Com a criação de regras mais justas, cujo objetivo era a dignidade da família, eméritos juristas e homens de letras elaboraram os códigos de direitos humanos e, aos poucos, foi se reorganizando a micro composição social, com vista ao respeito fraterno em prol da paz, da vitória do estímulo às virtudes e à educação.

No lar

Disse Emmanuel por Chico Xavier: “A família consanguínea, entre homens, pode ser apreciada como o centro essencial de nossos reflexos agradáveis ou desagradáveis que o pretérito nos devolve”. Pai, mãe, filhos e demais dependentes são Almas comprometidas umas com as outras que volveram ao cenário de reaprendizado da existência, tais como alunos repetentes a recomeçar o ano letivo, a fim de trilhar exatamente, em conjunto, o  roteiro  complexo, delineado pelas antipatias e as desafeições das encarnações passadas.

O escritor e jornalista espírita Pedro de Camargo (Vinícius) escreveu:

O lar é também semelhante ao corpo humano. O marido é a cabeça, a mulher, o coração, os filhos e domésticos, os demais membros e órgãos. Tudo vai bem. O cérebro indaga, investiga, sonda, perscruta. O coração ama, sofre goza e perdoa. A vida é inteligência e é também sentimento, portanto depende do cérebro e do coração. A má função de um ou de outro compromete a saúde do corpo, destruindo o encanto do lar e, consequentemente, a alegria de viver. 

Figura o lar para o homem algo mais elevado – não diz somente respeito a abrigo e segurança, como para o irracional o resguardo na caverna ou na toca; a residência terrena é, sobretudo, o refúgio do Espírito... Mas nem todos os que nele se encontram vivem em paz e harmonia; nem sempre, em toda residência, há a alegria real, o amor, a tranquilidade. 

Há pais que não aturam filhos, mães complicadas, insensíveis e exigentes, filhos a detestá-los, duelos de irmãos inimigos, em vista de antipatias congênitas, afetando-se mutuamente, com as farpas mentais destrutivas da ira por ciúme ou por inveja, ou por ressentimentos incrustados nos escaninhos da mente. São as consequências de condutas passadas, indissolúveis, mesmo com o fenômeno da morte, cujas causas fizeram volver as mesmas criaturas à convivência imprescindível.

Os laços de sangue não criam necessariamente ligação entre pessoas. Não são os pais os responsáveis pela existência do Espírito filho ou filha. Pai e mãe apenas favorecem o corpo físico, a vida material. As uniões espirituais unem as criaturas, tornam-se fortes pela purificação nas múltiplas existências terrenas, perpetuam-se, enquanto as uniões apenas por interesses materiais se extinguem com o tempo, até na existência atual.

A família é o alicerce da estrutura humana, e sempre o será. Nem os mais pessimistas dos argumentos, nem os mais modernosos dos conceitos de devassidão sexual que ora vigem em nosso meio, tentando perverter as mentes juvenis, serão capazes de delir da face do planeta o item casamento-família, evento esse que até  hoje se verifica no seio dos atuais povos ditos incivilizados.

O Evangelho moral de Jesus de Nazaré solicita-nos bondade, honestidade, simplicidade e indulgência com o próximo. Ah! Sonhas com a paz e a harmonia entre os homens? Aperfeiçoa o teu jeito de ser. Apurando-nos intimamente, a Humanidade melhorará a começar dos que partilham conosco as provações redentoras, na convivência compulsória sob o mesmo teto.

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*Por ora, a realidade é outra – a sociedade sintetiza os grupos consanguíneos; se estes não vão bem, o todo social se recente haja vista, em nossos dias, o recrudescimento da violência, o problema dos menores infratores, a superlotação carcerária, a tragédia das drogas, do trabalho e da prostituição infantis, etc.

• CHILDE, V. Gordon. O que Aconteceu na História. 5. Ed. Rio: Zahar Editores, 1981.

• ENGELS, Friedrich. A Origem da Família, da Propriedade Privada e do Estado. 5. ed. Rio: Civilização Brasileira, 1979.

• FRANCO, Divaldo Pereira. Estudos Espíritas. Ditado pelo Espírito Joanna de Ângelis. 4. ed. Rio de Janeiro: Federação Espírita Brasileira (FEB), 1987.

• KARDEC, Allan. O livro dos Espíritos. 80. Ed. Rio: FEB, 1998.

• VINÍCIUS. Em Torno do Mestre. 4. Ed. Rio: FEB, 1970.

• XAVIER, Francisco Cândido. A Caminho da Luz. Ditado pelo Espírito Emmanuel. 12. Ed. Rio: FEB, 1997.          

• _____. Caminho, Verdade e Vida. Por Emmanuel. 12. Ed. Rio: FEB, 1986.

• _____. Luz no Lar. Emmanuel. 8. Ed. Rio: FEB, 1997.

• _____. O Consolador. Emmanuel. 10. Ed. Rio: FEB, 1997. Palavras de Emmanuel. Emmanuel. 10. Ed. Rio: FEB, 1984. Palavras de Emmanuel. Emmanuel. 10. Ed. Rio: FEB, 1984. Palavras de Emmanuel. Emmanuel. 10. Ed. Rio: FEB, 1984.

• _____. Palavras de Emmanuel. Emmanuel. 10. Ed. Rio: FEB, 1984.