Carta revolucionária de um povo

Davilson Silva-

Raramente, em toda a História, a tolerância foi exercida nos moldes daquela trilogia proposta pelo importante filósofo, teórico político, escritor e compositor autodidata suíço, Jean-Jacques Rousseau.

“As novas opiniões são sempre suspeitas e, geralmente, opostas por nenhum outro motivo além do fato de ainda não serem comuns”, afirmou John Locke, filósofo inglês e ideólogo do liberalismo, sendo considerado o principal representante do empirismo britânico e um dos principais teóricos do contrato social.

Pintura retrata a Tomada da Bastilha, ou Queda da Bastilha por Jean-Pierre Houël (1735/1813), evento que 

marcou a Revolução Francesa, em 14 de julho de 1789. A Tomada da Bastilha provocou reações em todo 

a França, estendendo-se por toda a Europa até a Rússia Imperial.

Afirmam historiadores que o autor da frase acima mencionada exerceu grande influência contra o absolutismo autocrático dos soberanos franceses, com a sua Carta da Tolerância escrita em 1689.

Em que pese a tradução ao francês ter acontecido antes de 1710, os franceses já lhe conheciam o texto. O chamado Antigo Regime perdurou cinquenta gerações por mais de quinhentos anos, e os seus alicerces mais antigos e profundos foram fundamentados pela Igreja, estabelecidos durante mil e trezentos anos.

  

Uma das maiores revoluções

John Locke 

Segundo especialistas em história, as ideias do filósofo inglês, John Locke (1632/1704), descritas na Carta, tiveram grande influência sobre o fim da ortodoxia política e religiosa. Membros da escola dos enciclopedistas e admiradores de Locke contribuíram sobremaneira com a Revolução Francesa de 5 de maio de 1789 que começou com a convocação dos Estados Gerais e a Queda da Bastilha. Nomes, como os iluministas: Voltaire, Montesquieu, Rousseau, Buffon e o barão d’Holbach, membros da Enciclopédie (“enciclopédia”, em português), colaboraram com uma das maiores revoluções da história da humanidade.

Através da própria Enciclopédie, os seguidores de Locke usavam de críticas sutis, dotadas de certa ironia ao Antigo Regime, à distinta corporação clerical e suas prerrogativas sustentadas pelos monarcas. Durante o Antigo Regime a sociedade francesa encontrava-se dividida em três ordens, estamentos, ou estados: o clero, Primeiro Estado, a nobreza, Segundo Estado e o Terceiro Estado representado pela burguesia e camponeses. 

Santo Ofício

Esta gravura mostra um

homossexual sendo torturado

por carrascos da Santa Inquisição,

ou Santo Ofício. A Inquisição

espanhola e a portuguesa foram

as mais cruéis de todas as

inquisições. 

http://pt.wikepedia.org/wiki/Inquisição

Referindo-nos ao Primeiro Estado, quem já não ouviu ou leu algo sobre os Tribunais do Santo Ofício, ou Santa Inquisição, tribunais eclesiásticos instituídos com o fim de investigar e punir “crimes contra a fé católica”? A Igreja Católica não permitia qualquer liberdade de culto, e ainda por cima, mandava o poder civil aplicar medidas legais a quem professasse qualquer doutrina diferente. Essa prática tornou-se muito comum na Europa havia mais de cinco séculos. As penas da Inquisição variavam desde confisco de bens, perda de liberdade até a pena de morte, a pena capital que fazia o acusado arder vivo numa fogueira, em praça pública. Católicos perseguiam protestantes, judeus, supostos praticantes de bruxaria e outros.

Os protestantes que seguiam com fidelidade o monge Martinho Lutero (1483/1546) criaram também os seus próprios tribunais inquisitoriais, fortalecidos, depois da Reforma Protestante, desde o ano de 1517, repetindo a mesma intolerância dos sacerdotes da Santa Sé, ao perseguir católicos, judeus, todos os que por eles fossem considerados bruxos, assim como qualquer um que se atravesse a contradizê-los. Com o escoar dos anos, eles então se tornaram em grande ameaça ao poder da Santa Sé, daí a Contrarreforma. A Contrarreforma conhecida por Reforma Católica, de 1545, foi um movimento do qual a Igreja se valeu para opor-se ao avanço reformista, temendo a hegemonia de seus rivais pela perda de fiéis.

Um grande acontecimento

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Jean-Jacques Russeau

Raramente, em toda a História, a tolerância foi exercida nos moldes daquela trilogia proposta pelo importante filósofo iluminista, Jean-Jacques Rousseau (1712/1778): Liberdade, Igualdade e Fraternidade, e tal como sonhara os baluartes da revolução considerada o grande acontecimento que deu início à Idade Contemporânea. Todos os esforços tornaram-se inúteis quanto à mudança do quadro político e social francês, tudo acabou descaindo para um longo período de convulsões políticas. Com a entrada do século 19, a intolerância e, com ela, perseguições e crimes contra os direitos humanos repetiram-se tanto como outrora.

Por outro lado, no decorrer do século 19 para o século 20, o conceito de tolerância foi sendo reavivado e desenvolvido em diversos domínios; todavia, a intolerância subsiste ainda sob fortes e lamentáveis consequências. Além da frequente discriminação racial, social, religiosa, nos dias de hoje, o preconceito sexual que se tornou exacerbadamente claro referente à violência moral e, se tanto, física, contra mulheres e homossexuais, sem falar do preconceito contra obesos e o bullying. Tais sentimentos torpes derivam-se da intolerância preconceituosa que, por sua vez, resulta da ausência de espiritualidade nas pessoas, o que jamais terá a ver com rótulo religioso.

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