Davilson Silva-
Como é que Allan Kardec, considerado pelos espíritas o
bom senso encarnado publicou a mensagem: Obediência e resignação?! Nela,
há uma frase (apenas uma!) que contradiz a do próprio texto e as do capítulo
nono (para não dizer as frases de todas as mensagens de capítulos do livro)
cujo tema principal é: "Bem-aventurados os que são brandos e
pacíficos". Essa mensagem consta do item 8, de O Evangelho segundo o
Espiritismo.
Gostaria que me prestasse uma minuciosa explicação no que
Lázaro adverte:
Ai do espírito preguiçoso, ai daquele que cerra o seu
entendimento! Ai dele! Porquanto nós, que somos os guias da Humanidade em
marcha, lhe aplicaremos o látego e lhe submeteremos à vontade rebelde, por meio
da dupla ação do freio e da espora. (Federação Espírita Brasileira,
tradução de Guillon Ribeiro.)
Infeliz do Espírito preguiçoso, daquele que fecha o seu
entendimento! Infeliz, porque nós, que somos os guias da humanidade em marcha,
o chicotearemos, e forçaremos a sua vontade rebelde, com o duplo esforço do
freio e da espora. (Lake — Livraria Allan Kardec Editora, tradução de
Herculano Pires.)
Ai do espírito preguiçoso, daquele que fecha seu
entendimento! Infeliz! Porque nós que somos os guias da humanidade em marcha, o
atingiremos com o chicote, e forçaremos sua vontade rebelde no duplo esforço do
freio e da espora. (Instituto de Difusão Espírita, tradução de Salvador
Gentile.)
Aplicar o látego?!, submeter a vontade rebelde por meio da
dupla ação ou duplo esforço do freio e da espora?! Que estranho!! Que “guia da humanidade” é esse Lázaro?! Será que aqui não se aplica o 'mais
vale rejeitar nove verdades do que aceitar uma mentira' , ou incoerência?...
Tudo bem. Conforme os modestos conhecimentos doutrinários
que creio possuir, primeiro, digo com segurança: as frases traduzidas pelos
ilustres e competentes nomes não encerram “contradição” nem “incoerência”. As
traduções não “contradizem a do próprio texto e as do capítulo nono nem
“as frases de todas as mensagens de capítulos do livro”, segundo palavras suas,
sequer põem em risco a justa afirmativa do célebre astrônomo Camille Flammarion, creditada a mestre Allan Kardec, o Codificador do Espiritismo.
O
látego, dupla ação do freio e da espora
“Que guia da Humanidade é esse Lázaro?” É ele mesmo! Aquele que viveu numa aldeola da Betânia, “amigo de Mestre Jesus”, ao qual os evangelistas se referiram.¹ Lázaro, quando encarnado, era judeu. Levando-se em conta a cultura e a religiosidade dos antigos habitantes do reino de Judá, não há nada de estranho naquelas austeras palavras. Ele existiu numa época em que persistia a concepção de “castigos divinos”, muito embora Jesus tentasse inculcar o pensamento de que Deus não se teme, mas, sobretudo, se ama, e na presença do próximo.
“Que guia da Humanidade é esse Lázaro?” É ele mesmo! Aquele que viveu numa aldeola da Betânia, “amigo de Mestre Jesus”, ao qual os evangelistas se referiram.¹ Lázaro, quando encarnado, era judeu. Levando-se em conta a cultura e a religiosidade dos antigos habitantes do reino de Judá, não há nada de estranho naquelas austeras palavras. Ele existiu numa época em que persistia a concepção de “castigos divinos”, muito embora Jesus tentasse inculcar o pensamento de que Deus não se teme, mas, sobretudo, se ama, e na presença do próximo.
Note nessa citada mensagem que Lázaro, cujo nome procede da
uma forma grega da abreviação hebraica lãzãr — Eleazar (“Deus ajuda”), até
desencarnado, não se livrara de antigas ideias. Para a grande maioria das Almas
deste mundo é natural. Muitos não se libertam tão facilmente das convenções
terrenas após o desligamento do corpo perecível.
Entretanto, Lázaro, por possuir virtudes comprovadas pelo
Mestre, mereceu tomar parte dessa diversificante comitiva sob a chancela do
Espírito da Verdade. Como um dos “guias da Humanidade”, preocupado com a nossa
obstinação e negligência, ele, tal qual um verdadeiro pai extremamente zeloso,
fez uso de uma linguagem drástica com o propósito de despertar-nos dessa
infeliz indiferença pelo nosso próprio progresso moral, preservando-nos de
maiores e mais sofrimentos.²
Vale salientar de novo quanto a: “Nós, os guias da
Humanidade em marcha, lhe aplicaremos o látego, ou chicote, e lhe submeteremos,
ou forçaremos, à vontade rebelde”. Conforme (repito) o meu modesto modo de ver,
há um outro sentido implícito e, veja, genérico! Nesse trecho, entendo também
por nós, os guias da humanidade em marcha, os Espíritos obsessores, os inimigos
do passado... Não são eles parte importante do nosso adiantamento? (E como
são!) Hoje, entendemos serem os nossos “melhores orientadores”...
Quer queiram aceitar esse fato, quer não queiram, são os
nossos inimigos que, por nos causar sofrimento, compelem-nos a ter humildade,
paciência e a reconhecer o valor do perdão sincero, o ponto máximo e sublimado
da caridade ao próximo por amor a Deus. Portanto, aquele segmento não quer
dizer que o próprio Lázaro sairia por aí dando chicotadas a torto e a direito,
a subjugar a vontade rebelde por meio da dupla ação do freio e da espora qual
se estivesse amansando um cavalo xucro. Para bom entendedor, um pingo é
letra...
Eis o porquê de Kardec ter
publicado a mencionada mensagem de Lázaro, em abril de 1864, na excelente
obra, O Evangelho segundo o Espiritismo, Kardec que, para nós,
jamais deixará de ser “o bom senso encarnado”. Ninguém, nenhuma doutrina,
nenhum sacerdote com ou sem paramentos soube ou sabe explicar, e justificar!, o
que a clareza meridiana do Espiritismo explica e justifica. Doravante, prezada
leitora, não se apegue de tal maneira a pequenos trechos de linguagem figurada,
procure mais se ater à sua essência, estude, faça um curso de Doutrina e, por
favor, não sofra tanto.
__________________________________________________
1Para quem quiser
ler um resumo biográfico de Lázaro, irmão de Marta e Maria, “ressuscitado” por
Jesus de Nazaré, segundo o Evangelho, é só acessar o site da Federação espírita
do Paraná, <http://www.fepararna.com.br>, indicação do Prof. Edvaldo
Kulcheski, de Curitiba, PR, orador e estudioso da Doutrina espírita além
de idôneo pesquisador dos fenômenos mediúnicos.
2Essa mensagem
foi ditada em 1863, Paris, França. Muitas mensagens de O Evangelho
segundo o Espiritismo e das outras obras da Codificação Kardequiana,
incluindo-se a Revista Espírita,
são dotadas de termos e conceitos tropológicos. É compreensível. Grande parte
das dissertações são de autoria de Espíritos católicos quando encarnados.
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